A importância de reconhecer a escrita como uma prática social e cultural desde cedo; os desenhos e os traços, antes vistos como rabiscos, podem comunicar alguma coisa
Autoria: Gisele Coli Nahime – Professora do Pré
“Agora sabemos que a alfabetização é um longo processo que começa muito antes dos seis anos e que continua muito além da educação obrigatória. Um longo processo cujo objetivo é a formação de cidadãos que possam circular nas complexidades da cultura escrita sem temor, com confiança e curiosidade. Ainda que fosse preferível falar de ‘culturas do escrito’, no plural.”
(Emilia Ferreiro)
– “Gi”!… Pergunta uma criança:
– Ma de Matheus é o “M” e o “A”?
Perguntas como essa são primordiais, pois comunicam como as crianças estão pensando sobre a escrita, e nos dão pistas de como investir.
Sabemos que a alfabetização se dá no mundo, nas relações, na ocupação dos territórios, nas trocas, na oralidade; se inicia no útero, manifesta-se na primeiríssima infância. Quando ainda pequenas, as crianças começam a deixar suas marcas, a representar suas experiências por meio de desenhos, anotações e registros que imitam o movimento da escrita do adulto.
Traços e riscos que deixaram de ser vistos como “rabiscos”, passaram a ser compreendidos como uma “espécie” de escrita. Traçados, serrilhados, zigue-zagues, letras, numerais e códigos que para a criança revelam e comunicam saberes sobre determinado assunto.
É um percurso que traz compreensão e desejo, aprendizagem que contagia e convida a perceber que a escrita é uma representação gráfica que, aos poucos, recebe valores sonoros para cada letra.
Brincadeira com as letras do alfabeto ( jogo: tapa certo das letras).
Por isso, à medida em que passam a ter repertório de letras, as crianças começam a tecer relações entre o que ouvem e escrevem, começam a usar letras que existem na palavra para escrevê-la.
Além do que, ao estar num espaço alfabetizador, meninos e meninas são convidados e provocados a pensarem, como por exemplo, que o P de PARQUE é o P de Pedro, de Paulo, o M de MÚSICA é o mesmo que o M da Manuella ou, S de SAÍDA é o S de Sabrina.
Jogo: montar palavras com sílabas simples.
Por fim, relacionar e utilizar letras e sílabas repletas de significado e afeto (porque é do nome dos amigos e palavras de seu cotidiano) em outras palavras, como: SA de SAPATO… SO de SOFÁ.
Coelho sai da toca com as sílabas iniciais dos nomes do amigos/ momentos de leitura.
Ao longo desse encantador processo, as crianças vão percebendo e compreendendo a função social da escrita, vivendo e experimentando estratégias que as ajudam a avançar de maneira única e individual, cada uma a seu tempo, mas com a rica e prazerosa troca entre pares. São interações que multiplicam saberes e utilizam todos estes conhecimentos para descobrirem e escreverem novas palavras.
Descobrindo os nomes dos animais em pequenos grupos/ sondagem de escrita.
Assim, o processo de alfabetização vai se desenvolvendo; o aprender e o brincar se entrelaçam; o contato com a linguagem e a representação com seus símbolos de escrita, criam a experiência da alfabetização.
E nesse convite de viver experiências significativas sobre alfabetização de si, do mundo e da palavra, trago Emilia Ferreiro, mais uma vez quando nos diz que…
“Por traz da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa.”
É por isso que temos o compromisso de oferecer uma infância na qual a criança aprenda de maneira natural e lúdica, com investimentos, troca e escuta.
Saiba Mais!
Emilia Ferreiro é uma psicóloga e pesquisadora argentina que se dedicou ao estudo da aquisição da linguagem escrita pelas crianças. Seu trabalho mais conhecido é o livro “Los sistemas de escritura em el desarrollo del niño” – Os Sistemas de Escrita na Evolução da Criança – que foi publicado em 1979. Desde então seus estudos e pesquisas têm sido muito influentes no campo da alfabetização e na formação de professores em diversos países.