Aprender, desaprender e reaprender. Nada mais atual e necessário nos tempos em que vivemos. A professora do Ensino Médio nas unidades curriculares Inovação e Criatividade, Web e as Mídias Digitais e Linguagem Fotográfica explica que mundo é esse e como a escola se coloca diante desse desafio ao oferecer experiências variadas de aprendizagem, de maneira personalizada e colaborativa, baseada na autoconsciência e na autonomia.
Autoria – Elizabeth Fantauzzi, professora de Artes do Ensino Médio
Você já deve ter ouvido falar em mundo VUCA, mas talvez não tenha feito uma pausa para saber o que significa ou não tenha percebido o quanto o termo se mantém atual, principalmente agora, em um cenário de pandemia e ensino remoto. VUCA é o acrônimo em inglês de volatilidade (Volatility), incerteza (Uncertainty), complexidade (Complexity) e ambiguidade (Ambiguity) ou VICA, em português.
Não é um termo recente, foi cunhado em ambiente militar na década de 1990 e surgiu para caracterizar o cenário pós-guerra fria: complexo e cheio de desafios. Fato é que o termo se popularizou e hoje é utilizado em vários setores da sociedade, inclusive na educação, para exemplificar tempos incertos e difíceis, características sempre presentes na vida das pessoas.
Como descrever VUCA? Volatilidade: mudanças rápidas, inesperadas e instáveis + Incerteza: dificuldade em antecipar o que está por vir + Complexidade: um grande número de situações interdependentes e repletas de variáveis que dificultam a compreensão do todo + Ambiguidade: contextos regidos pela falta de clareza e insegurança
Para sobreviver em um mundo VUCA, a habilidade fundamental é saber aprender a aprender, desaprender e reaprender! Nesta perspectiva, o aprender não se limita apenas a obter sucesso acadêmico, dominar conteúdos de determinadas unidades curriculares, estar preparado para uma prova ou conseguir notas altas no boletim, mas também resolver com desenvoltura situações complexas, praticar empatia, almejar as competências para o século XXI e desaprender e reaprender coisas que possam transformar o mundo em um lugar melhor para (con)viver.
Nas palavras de Alvin Toffler, escritor e futurista estadunidense, “O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas sim aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”. Aprender deve ser uma ação constante, um novo modelo mental (mindset), que permite aos indivíduos abrirem-se ao novo, serem mais criativos, pensarem de forma diferenciada e entenderem que suas qualidades não são imutáveis. O segredo é encarar tudo com um mindset de aprendiz – ou mente de principiante, como diz Carol Dweck, em seu livro Mindset: a nova psicologia do sucesso, que permite ao indivíduo/estudante estar mais próximo das atitudes esperadas em um modelo de aprendizagem contemporâneo, contido em um mundo VUCA.
Uma das maiores contribuições da escola em um mundo VUCA é a possibilidade de oferecer aos estudantes experiências variadas de aprendizagem, de maneira personalizada e colaborativa, baseada na autoconsciência e na autonomia para escolher seu próprio caminho no aprendizado, já que aprender é uma experiência única e diferenciada para cada um. Essas vivências dentro da escola podem ocorrer na modalidade presencial, a distância com ou sem tecnologias digitais. Aí vão algumas sugestões de propostas possíveis e realizáveis:
– Aprender a aprender: possibilitar aos estudantes momentos em que eles possam ensinar a si mesmos, descobrindo estratégias cognitivas pessoais, estimulando-os a compreenderem como podem ser gestores de sua própria aprendizagem;
– Aprendizagem como um processo: proporcionar momentos em que o foco não esteja apenas em avaliações seletivas, revelando fracassos, resultados e comparações, mas sim, momentos em que os estudantes possam reconhecer onde estão no seu percurso de aprendizagem, a partir do que já foi percorrido e o que falta para concluí-lo;
– Estilos de Aprendizagem: estimular os alunos a irem além da preferência de uma modalidade de estudo – cinestésica, visual, auditiva…, e demonstrar, a partir da observação e descoberta, como ocorre sua aprendizagem individual, com o objetivo de potencializar o ato de aprender;
– Aprendizagem centrada no aluno: planejar atividades diferenciadas, nas quais haja protagonismo no aprendizado, oferecendo experiências significativas (que pertençam à sua realidade) e que permitam a participação ativa por parte dos estudantes, nas quais o professor seja mediador, orientador e incentivador e não o centro do processo;
– Ambiente de aprendizagem personalizado: orientar os estudantes a criarem seus próprios ambientes de aprendizagem, sejam eles analógicos ou digitais, com todas as ferramentas e materiais de sua preferência, que os farão aprender de forma eficaz, tranquila e segura;
– Aprendizagem adaptativa: utilizar sistemas, plataformas, softwares e apps que coletam dados, medem desempenhos e recomendam caminhos para a aprendizagem dos estudantes, aumentando as chances de obter sucesso em determinado objeto de estudo;
– Aprendizagem ubíqua/móvel: promover atividades de aprendizagem que possam ser realizadas em qualquer hora, lugar ou dispositivo, oferecendo experiências de aprendizagem ubíqua;
– Aprendizagem em pares: propor atividades que permitam o compartilhamento de conhecimentos adquiridos a partir das experiências dos estudantes e, na troca entre eles, a construção de novos conhecimentos, sem informações teóricas. Quanto mais se ensina, mais se aprende;
– Aprendizagem baseada em problemas: incentivar a busca de informações e construção de conhecimento a partir de situações problemas desafiadoras e reais, para que os estudantes proponham soluções de forma autônoma e independente;
– Aprendizagem baseada em projetos: propor atividades, trilhas e sequências didáticas que utilizem a aprendizagem colaborativa, em grupos, com papéis e funções determinadas, organizados em Etapas, com cronograma definido.
A escola, ao propor pelo menos uma destas sugestões apresentadas semanalmente, em uma ou mais unidades curriculares, oferecerá aos estudantes oportunidades de experimentar as várias maneiras de aprender, desaprender, reaprender, seja individualmente ou colaborativamente, preparando-os para as situações mais diversas e improváveis que um mundo VUCA possa oferecer.
Referências:
Dweck, Carol. Mindset: a nova psicologia do sucesso. São Paulo: Objetiva, 2017. Ribeiro, L. Aprenda, Desaprenda, Reaprenda: Novos modelos para pensar e inovar a aprendizagem no mundo contemporâneo. Recife: Pipa Comunicação, 2020. Young Digital Planet (org), Educação no Século 21: tendências, ferramentas e projetos para inspirar. São Paulo: Santillana, 2016.