Trabalho com as turmas do 7º ano tem como foco de interesse relações solidárias e de comunicação não violenta; uma reflexão mais aprofundada com os estudantes resultou no projeto CONVIVER
Autoria: Pedro Moisés de Carvalho – Professor de Ensino Religioso, Maria Carolina Biscaia – Professora de Língua Portuguesa
Temos vivido uma revolução da chamada “educação formal” sem precedentes na História. O conhecimento nunca esteve tão ao alcance das nossas mãos. Quando olharem para nós, dirão os cidadãos do futuro, que ele estava a “um touch”. Até lá, a Inteligência Artificial já terá produzido seus efeitos e a Humanidade terá finalmente alcançado o seu merecido descanso. A escola terá realizado sua missão, a saber: promover situações e espaços nos quais as múltiplas habilidades possam ser potencializadas até seu mais alto grau.
Mas, se abandonarmos por um instante esse exercício imagético quanto àquilo que o futuro nos reserva, só nos resta reconhecer que o presente clama por pessoas comprometidas, não apenas com a busca pela garantia do respeito aos seus direitos individuais, mas que possuam também uma visão mais sistêmica da realidade que abarque tanto as possibilidades quanto as suas contradições. “A mera soma dos interesses individuais não é capaz de gerar um mundo melhor para toda a humanidade” (Carta Encíclica Fratelli Tutti, nº 105 – Papa Francisco).
A escola presencia cotidianamente o movimento produzido pelo reflexo das problemáticas que também compõem a nossa realidade. Tais circunstâncias são inerentes ao nosso atual momento histórico, marcado por posicionamentos aparentemente antagônicos que precisam de respostas. Partindo desses pressupostos, é preciso denunciar e combater toda e qualquer forma de violência, por entender que está nela a gênesis da desigualdade e das contradições.
Entendemos que as habilidades socioemocionais assumem, nesse contexto delicado, uma importância ímpar. Todo e qualquer ato educativo precisa ser pensado tendo como um dos focos de interesse a contribuição para o fomento de relações solidárias, justas e fraternas. A sociedade contemporânea convive com o aumento exponencial da presença de situações e contextos que denunciam o enfraquecimento da saúde mental das pessoas. O sentimento de abandono e a solidão que ele ocasiona repelem toda tentativa de aproximação. A vida parece nunca ter valido tão pouco para muitos.
A intolerância avança com os seus tentáculos, sufocando aparentemente toda e qualquer possibilidade de comunhão. As pessoas são classificadas segundo padrões de comportamento, crenças, valores ou procedência étnica. Essas e outras circunstâncias preocupantes fortalecem discursos de ódio que se proliferam sem controle nos porões da ignorância. A escola, infelizmente, também é atingida por esses fenômenos.
Por isso, nós professores do EFII do Colégio Santa Maria elaboramos um “Projeto de desenvolvimento das Habilidades e Competências Socioemocionais”, que vem sendo desenvolvido nas diferentes séries através de temáticas reflexivas bimestrais. No 7º ano, por exemplo, as ações pensadas se concentram no que denominamos como “Projeto Conviver”, sempre voltadas para a promoção da empatia, da responsabilidade, do respeito, da justiça e consciência planetária. Até esse momento, já concretizamos duas etapas de trabalho, tentando despertar nos estudantes uma reflexão sobre como eles se posicionam nas ações que envolvem bullying na escola.
A reflexão, nesse caso, exigiu que os alunos e as alunas assumissem por um instante o papel de autor ou de testemunha de ações inadequadas, a fim de comprovar que nossa falta de atitude também é uma forma velada da manutenção de agressões e desrespeito no ambiente escolar. Um dos grandes focos do 7º ano é agir na comunicação dos jovens, pois é flagrante em sala de aula o uso de palavras duras e inadequadas no trato entre eles para situações corriqueiras.
O despertar para ações mais solidárias e de comunicação não violenta tem sido uma preocupação dessas ações educativas. Não podemos fechar nossos olhos para a realidade. O século XXI avança a passos largos e a escola precisa estar repensando o seu papel nos novos contextos sociais que estão perto de nós. Nesse movimento frenético da luta pela perpetuação da própria espécie, a escola não pode se abster da sua responsabilidade social. Sabemos que há muito a ser feito. O bullying, conforme vimos nas linhas anteriores, quando praticado, personifica em si tudo o que a escola, enquanto espaço de convívio e respeito à diversidade, existe para superar. Não há outro caminho possível. Ou seremos espaços nos quais o respeito e o convívio harmonioso são possíveis, ou não teremos sido hábeis o bastante para seguir nesta caminhada.