O longo período de distanciamento tem revelado uma vasta gama de tensões psicológicas e reafirma a importância de ouvir os estudantes.
Autoria – Roberta Edo, psicóloga, orientadora da 1ª série e coordenadora da área de Códigos e Linguagens do Ensino Médio
Desde o início da pandemia, percebemos movimentos de adaptação, invenção, criação de alunos e professores para que o ano letivo acontecesse. Às vezes, todos estavam mais animados, por vezes, mais cansados, e assim seguimos de março de 2020 até agora para “dar conta” do ensino remoto: cada um a partir da sua casa, vendo imagens em quadradinhos.
Parece-me que a contingência da pandemia fez emergir algo muito singular, de cada um de nós, que já estava lá, só que escondido, guardado a sete chaves. Alguns se sentiram mais protegidos do mundo, outros isolados do seu grupo de pertencimento. Afinal, o contato com outro e, por consequência, o enfrentamento dos conflitos que surgem na convivência foram suspensos. O sofrimento de cada um ficou à flor da pele, escancarado.
Mas o que fazer? Como a escola pode olhar/cuidar? Penso que o primeiro passo é a escuta. Escuta que possibilite o surgimento de falas despretensiosas e que seja mediada pelos próprios participantes.
Então, na 1ª série do Ensino Médio, criamos um momento semanal nomeado de “bate-papo com orientação”, espaço muito diferente de uma orientação acadêmica e pedagógica. É onde podemos conversar sobre qualquer coisa sem necessariamente chegar a conclusões ou encaminhamentos futuros. Apenas um espaço, ainda virtual, de estarmos juntos e sermos atravessados pela vontade de conversar.
Já surgiram ideias para as aulas, lamentações de estarem sem o convívio do colega, sonhos para o próximo ano [2021]. Mas não temos a obrigação de chegarmos a alguma solução produtiva. Simplesmente, porque “a escuta é parte primária e essencial do cuidado com o sofrimento das pessoas. (…) O sofrimento precisa ser escutado, caso contrário tende a transformar-se em sintoma ou a regredir para estados inomináveis de mal-estar” (DUNKER, Christian. Paixão da Ignorância. Ed. Contracorrente, 2020, p. 73).
É por isso que aqui estamos, de ouvidos atentos e corações abertos.