O que significa escutar uma criança? É somente parar na frente dela para ouvir? Com certeza, não! Veja o universo que envolve esse processo
Autoria: Tathiane de Souza – Professora das turmas multietárias
Penso que a melhor maneira de começar a escrever sobre esse assunto é tentar entender o que significa dizer “escutar as crianças”, algo que vai muito além de “emprestar os ouvidos”.
Vai além, pois implica escutar as crianças e suas ânsias profundas, o intenso desejo de vivenciar o mundo, descobrir novidades, brincar fingindo ser “gente grande”, e aprender nas relações, trocas e parcerias.
Um exercício, uma construção que envolve estudo, tempo, silêncio, pergunta, troca, continência. Um estado de ser, uma abertura ao outro que acontece na prática e com todos os sentidos. Dar valor e visibilidade ao outro e, consequentemente, a si mesmo.
A escuta vai além do diálogo em que um fala e o outro apenas ouve; é uma conexão com a realidade da criança, com suas vivências e experiências. Escutar não é um exercício simples, assim com a observação. Ambos estão interligados para compreender a cultura infantil e entender sua forma de pensar, de fazer perguntas sobre si e sobre o mundo, buscando a compreensão mútua.
As crianças se manifestam o tempo todo, por meio da fala, olhares, movimentos corporais e suas infinitas maneiras de se expressar, seja por meio das brincadeiras, desenhos, brincar livre, brincar em grupo, brincar sozinha ou comentar sobre determinado assunto.
Por esse motivo, é fundamental estar com a criança e permitir que ela se perceba e manifeste suas emoções, sentimentos, conflitos e escolhas. Desta forma, é importante considerar a individualidade para entender e contemplar a infância para que ela se relacione com o mundo a sua volta.
Esse processo requer uma escuta sensível e afetuosa com observação, vínculo, distanciamento e, muitas vezes silêncio, abrindo espaço e promovendo o protagonismo da criança, possibilitando que ela tenha voz e condições para se expressar espontaneamente.
Dar “vez e voz” às crianças é relacionar-se com elas, colocando na frente o olhar e a experiência delas, explorando possíveis mundos, percebendo que sempre há o que aprender e a descobrir.
Desenvolver a habilidade de ouvir é um exercício de autoconsciência, permitindo-se estar receptivo à percepção do outro. Isso proporciona oportunidades para a criança explorar e construir novos horizontes, promovendo seu desenvolvimento.
Escutar, portanto, também é uma forma de se expressar! É um exercício diário de atenção, respeitando a subjetividade que transforma a criança em um ser social, um sujeito de direitos. Afinal, a criança que é ouvida aprende a escutar, a que é respeitada, aprende a respeitar, e a que é acolhida, aprende a acolher.