Linguagens

A “inutilidade” da poesia

Turmas do 9º ano estudam o gênero Poesia a partir da leitura do livro “Vamos comprar um poeta”, do escritor português Afonso Cruz. Em tempos de redes sociais e de imediatismos, valorizar conteúdos que não parecem “úteis”, enriquece o debate e o repertório dos adolescentes que estão prestes a ingressar no Ensino Médio

Autoria: Rita de Cássia C. Sógi – Professora de Língua Portuguesa

No mundo acelerado de hoje, a praticidade, muitas vezes, precede a criatividade. Na escola, a questão de saber se todo o aprendizado acadêmico é útil, torna-se particularmente relevante.

Não só uma vez os professores já ouviram perguntas dos alunos como: Isso serve para quê? Qual a utilidade disso?

Parafraseando Descartes, o sentido do mundo moderno também para os jovens parece ser: “é útil, logo me interesso”.

Em tempos de vídeos de minutos que exploram o divertido banal, mensagens fragmentadas em redes sociais, entre outras, ler um conto, um romance ou uma poesia parece ser o fim do mundo. Talvez a poesia seja a mais prejudicada ainda, afinal, conta com uma linguagem nem sempre de fácil compreensão à primeira leitura.

Voltando ao ponto a que se propõe este texto:

Afinal, a poesia precisa ser útil?

Ela tem sido uma forma de expressão artística há séculos, cativando o público com suas imagens, emoções e temas vívidos e vividos. No entanto, um debate de longa data gira em torno da questão de saber se a poesia precisa servir a um propósito prático. Alguns argumentam que a poesia deve ter uma função utilitária clara, enquanto outros acreditam no valor intrínseco da poesia por si só.

Aqueles que defendem a utilidade da poesia enfatizam a sua capacidade de transmitir mensagens importantes de uma forma criativa e impactante. Frequentemente, os poetas abordam questões sociais, turbulências políticas e lutas pessoais por meio de seus versos, gerando discussões e provocando reflexão entre os leitores. Ao lançar luz sobre diversas experiências e perspectivas, a poesia pode inspirar mudança, empatia e consciência na sociedade.

Por outro lado, os proponentes da ideia de que a poesia pode ser “inútil” argumentam que o seu valor reside na sua capacidade de evocar emoções, estimular a imaginação e oferecer consolo. A poesia transcende as restrições da praticidade, mergulhando no reino das emoções, da espiritualidade e da beleza. Oferece um espaço para autorreflexão, introspecção e conexão com outras pessoas por meio de experiências humanas compartilhadas.

Embora alguns poemas possam ter uma mensagem clara ou uma lição moral, muitos existem simplesmente para evocar sentimentos ou explorar conceitos abstratos. Os poetas costumam usar metáforas, simbolismo e ambiguidade para convidar os leitores a interpretar e se envolver com o texto em um nível mais profundo. A ‘inutilidade’ da poesia, nesse sentido, abre possibilidades para múltiplas interpretações e conexões pessoais.

O debate sobre se a poesia deve ser útil ou inútil é complexo e multifacetado. Em última análise, a beleza da poesia reside na sua capacidade de transcender fronteiras, desafiar percepções e oferecer uma forma única de expressão. Seja prática ou abstrata, a poesia continua a inspirar, provocar e repercutir em públicos de todo o mundo.

Os alunos do 9º ano terão a oportunidade de explorar e discutir o caráter da poesia e formar uma opinião a respeito quando lermos “Vamos comprar um poeta”, do escrito português Afonso Cruz.

Pode ser que, ao final, a pergunta que fazem aos professores finalmente tenha uma resposta.

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