Educação em Pauta

Adaptação é um processo natural e necessário em qualquer faixa etária

Alunas, alunos, educadores e familiares amadurecem juntos e constroem uma atmosfera saudável no ambiente escolar.

Autoria: Colégio Santa Maria

O conceito de adaptação tem muitos significados: acomodar, ajustar, adequar, apropriar, moldar, entre outros. Quando se fala em adaptação escolar, logo se imagina que crianças menores, na primeira infância, são as que mais necessitam de tempo para se ambientar e se apropriar de um novo espaço. Mas há aquelas que já no Ensino Fundamental mudam de colégio na metade de um ciclo, por razões diversas, como mudança de bairro, de cidade, ou até mesmo por insatisfação dos pais com questões pedagógicas relevantes.

A experiência de entrar em uma escola nova aos 9, 10 anos de idade ou mais, traz à criança e à família muita insegurança, questionamentos e, às vezes, medo. Medo de enfrentar o novo, o desconhecido, de não gostar, de sentir falta dos amigos da outra turma, da professora…Razões suficientes para que ambos os lados – escola e família – estejam mobilizados para atingir um objetivo comum, o de ver essa criança satisfeita, autônoma e pronta para novas aprendizagens.

De Recife para a capital dos arranha-céus

A professora Renata Ferrari, do 4º ano, já recebeu alunas e alunos novos muitas vezes. Só neste ano, ela tem em sua sala sete crianças que vieram de outras instituições, incluindo uma menina que morava em Recife (PE), a Maria Luiza. Vamos imaginar este cenário: uma família que mora em uma cidade com um clima totalmente diferente, onde existe praia para os momentos de lazer e descanso e, de repente, ter que mudar para São Paulo? Nada de praia, nada de calor o ano todo, cultura diferente, alimentação etc. Quanta variação! De temperatura, de cultura, de sotaque, de tipo de lazer…Sair de uma cidade litorânea para uma metrópole com mais de 12,3 milhões de pessoas, não deve ser nada fácil.

Luciana D. Reis, mãe de Maria Luiza, nasceu em Salvador (BA), assim como a filha, depois foram para Pernambuco e ali moraram durante dois anos. A menina estava muito acostumada àquele clima e à escola de Recife. Quando chegou 2022, veio a mudança para São Paulo e a entrada no Santa Maria. Luciana reconhece que sentiu medo de sua filha não conseguir acompanhar a escola. Apesar de vir de um contexto muito diferente, uma cena no primeiro dia de aula demonstrou que a Malu não sofreria grandes problemas. “Ao chegar na classe, ela encontrou uma menina na porta, chorando, e acolheu a colega, que parou de chorar”, disse Luciana.

Há um aspecto do processo de adaptação, que acontece quando a(o) estudante adquire uma autonomia sozinha(o), de tal forma que chega a surpreender, como foi o caso da Malu. “Quando essa criança encontra na escola um lugar seguro para que ela socialize, brinque, aprenda, ela encara esse ambiente de uma forma muito tranquila. Os alunos do Santa Maria têm um ‘chip de acolhimento´, por isso nem sempre é necessário um olhar individualizado para esta aluna ou aluno que está chegando no Colégio. A professora vai dando os contornos necessários para que essa adaptação do grupo ocorra o mais rapidamente possível”, diz a professora Renata.  É bem verdade que cada criança tem suas características, seu tempo, sua personalidade. Algumas vão se ajustando sozinhas, outras vão precisar de um “empurrãozinho”, e… tudo bem!

Vou estudar em outro prédio. E agora?

Uma das séries do Ensino Fundamental que exigem um olhar bem focado é o 2º ano. É aquele momento que a criança de 6 para 7 anos de idade, que acabou de ser alfabetizada, vai estudar em um outro prédio, onde tudo é novidade e onde ela encontra colegas e professoras que ela não conhecia na turma nova, espaços diferentes e mais exposição para exercer a autonomia. Alguns vão muito bem, mas outros demoram um pouquinho mais. É aí que o trabalho de uma equipe pedagógica profissional e acolhedora entra.

A professora Maíra Bedran, que sempre lecionou para essa faixa etária no CSM, explica que o foco das atividades com as turmas do 2º ano na fase de adaptação são momentos de acolhimento, tanto para que as crianças estabeleçam vínculos com seus pares, como também com os professores. “Eles precisam se sentir livres neste novo espaço e pertencentes a ele.

A gente propicia muitas atividades para que alunas e alunos se sintam seguros, então nós fazemos propostas lúdicas, de exploração do ambiente e de relacionamento entre eles; são jogos de integração, brincadeiras em que um tenha que ajudar o outro, nada que envolva competição. As crianças têm a oportunidade de serem ouvidas, de dizer do que gostam, quais são suas preferências”, relata a educadora. “No recreio eles podem ir até a biblioteca brincar com jogos de tabuleiro, dama ou xadrez, o que propicia a autonomia e favorece a adaptação também. Além disso, é o momento de encontrar amigos das outras salas e de interagir”.

“Eles precisam se sentir livres neste novo espaço e pertencentes a ele.”
– Maíra Bedran

Já para os maiores, existe ainda um outro tipo de adaptação que está relacionado ao conteúdo. Será que meu filho vai acompanhar? A orientadora pedagógica do 3º ano do Ensino Fundamental, Marcia Almirall, lembra que independentemente do conhecimento conceitual, a(o) aluna(o) que chega ao Colégio será recebida(o) no nível em que estiver. “Supondo que no currículo da escola em que estudava, ele não tenha aprendido um determinado conteúdo, existem mecanismos para auxiliar a(o) estudante a se ‘equalizar´e conseguir acompanhar as(os) colegas da classe”, explica a educadora. Nas vivências que acontecem na escola, com familiares e crianças que desejam ingressar no CSM, são realizadas atividades lúdicas e intencionais que demonstram as habilidades desta(e) estudante, mas apenas para uma observação conceitual e de socialização. “É por meio desta observação que nós podemos avaliar a necessidade de um acolhimento mais particularizado deste aluno”, completa Marcia.

A administradora Cinthia Dante da Silva, mãe de aluna do 4º ano, participou da vivência no ano passado. Durante as dinâmicas, a menina conheceu outras crianças e saiu muito empolgada, de acordo com a mãe, tanto com o espaço como com o tipo de atividades propostas. “Quando a Camilla entrou na escola, logo nos primeiros dias de aula, a professora montou grupos com alunos novos, e ela foi se integrando, se envolvendo. Hoje ela está autônoma, tem domínio com as plataformas, amadureceu bastante”, conclui.

Educação Infantil, um outro contexto

É inegável que a grande área verde do Santa Maria é uma fonte de inspiração e exploração para todas as crianças e educadores. A maior parte das dinâmicas das aulas acontece neste ambiente rodeado de árvores nativas, trilha no bosque, aves, macaquinhos, hortas e jardins. Este é um dos principais atrativos para as crianças de 2 a 6 anos, faixa etária das turmas da Educação Infantil e do 1º ano, que recebem toda a atenção da equipe pedagógica para que haja um ambiente de confiança mútua e de parceria com as famílias. Os espaços (territórios de aprendizagem) são preparados para receber meninas e meninos que têm a liberdade de pegar objetos, de investigar e de circular pelos espaços com tranquilidade.

Se a criança já veio de outra instituição, o processo de integração é mais natural para ela e para as professoras. Já nas turmas de 2 e 3 anos, o foco é no acolhimento, que acontece ao longo de todo o ano. É mais comum que nesta idade a criança tenha a referência apenas do convívio familiar, onde não se compartilhava brinquedos e espaços. “Neste grupo nós acolhemos as crianças e as famílias. As maiores, de 4 e 5 anos, que também não passaram por outra instituição, choram quando começam a viver a organização do dia na escola, ou seja, a presença das regras. Isso porque elas ainda não têm o vínculo com os amigos e as professoras. Quando esse vínculo acontece, a sala e o grupo se constituem. Nós precisamos preservar regras e combinados no grupo para que haja respeito entre os pares”, explica Eliane Lima, orientadora pedagógica da Educação Infantil.

Cecília é uma aluna de 3 anos que nunca tinha passado por outra escola, nem por um berçário. Ela acabou de entrar no Santa Maria e, em menos de um mês já está adaptada. “Na primeira semana eu fiquei junto, ela chorou uma única vez, mas no restante dos dias ficou super bem. Eu acho que essa adaptação é muito importante, principalmente para a criança que nunca foi para a escola”, diz a mãe Ana Clara Matos. Cecília tinha o hábito de comer em casa, em qualquer momento. É na escola que ela está se acostumando com os horários para refeição. “No primeiro dia, ela sentiu fome antes do horário do recreio. Até nesse sentido está sendo bom porque ela come antes de sair casa, depois espera o lanche das 10h”, relata a mãe. Outro exemplo que Ana Clara menciona é que Cecília não gostava de ficar sentada na cadeirinha de segurança do carro. “Desde que ela começou a ir para a escola, a professora a coloca na cadeirinha na hora da saída e fecha o cinto de segurança. Agora ela não tenta sair como antes”, explica.

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Tags: adaptação, Educação Infantil, ensino fundamental I, vivência

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