Muitas habilidades e conexões internas são ativadas na criança no momento da alfabetização e do letramento. As aprendizagens por meio da convivência com colegas e professores, das brincadeiras em grupo e do movimento amplo que prepara a motricidade para a escrita foram perdas do longo período de quarentena, por isso o 1º ano do Santa Maria reorganizou o planejamento para essa fase fundamental na vida das crianças.
Autoria: Sueli A. Gonçalves Gomes, orientadora do 1º ano do Ensino Fundamental
Voltamos ao ensino presencial (o ensino híbrido, na verdade), muito contentes por ter os alunos frequentando novamente o Santa Maria no 1º ano, série da alfabetização!
Quais aprendizagens foram mais impactadas pelo distanciamento da escola no ano passado sem as vivências da Educação Infantil, que não puderam ser efetivadas nas aulas remotas?
Sem dúvida, o que mais fez falta foram as aprendizagens sociais, conquistadas pela convivência com os pares, com os professores, nas trocas de ideias e conhecimentos, nas brincadeiras em grupo…
Um diagnóstico apurado nos mostrou os focos de ensino-aprendizagem necessários, levando em conta que recebemos um grande número de alunos novos vindos de escolas de Educação Infantil, além daqueles que frequentaram o Pré do Santa Maria.
Recuperar as brincadeiras para favorecer a construção dos relacionamentos foi a primeira proposta. Todos queriam correr, explorar os espaços, movimentar-se com liberdade pelos jardins, quadras, campos e bosques do Colégio. Assim, priorizamos as atividades ao ar livre, reorganizando os planejamentos diante das demandas. E como foi produtivo!
A motricidade ampla fez falta nos espaços reduzidos das casas durante a quarentena. Como se reflete no desenvolvimento dos movimentos refinados, intensificamos os momentos de desenhos e pinturas de observação, traçados na areia com os galhinhos recolhidos no bosque, modelagem em argila e massinha criando cenários antes de passar para o espaço do papel. O objetivo de fortalecer a musculatura das mãos, a agilidade dos dedos e favorecer a preensão do lápis para a escrita foi atingido de forma atraente e divertida. Formar os nomes e palavras para desafiar os colegas a ler ajuda a memorizar os movimentos do traçado correto.
Quantas habilidades são exigidas na aprendizagem inicial da língua escrita!
Aprender o sistema de representação da fala, com os 26 caracteres, totalmente abstratos, combinando-os de diferentes maneiras para significar o que se quer comunicar, é apenas uma parte. Há toda a tecnologia da escrita, desde a direção, da esquerda para a direita, a posição no espaço do papel, a pressão adequada do lápis, a regularidade no tamanho das letras…
E o principal: para quê e para quem vou escrever? Tudo tem que fazer sentido: há que usar a escrita, enquanto sistema simbólico em contextos específicos, para uma necessidade real, comunicativa, dirigida a interlocutores escolhidos. Escrever bilhetes para a mamãe com os alimentos selecionados para o lanche, um convite para a classe vizinha apreciar um trabalho de artes que fizeram, um cartaz com as aprendizagens das experiências de ciências e legendas de fotos do plantio na horta são situações que motivam os alunos. São aprendizagens do letramento das práticas sociais.
Desde bem pequena a criança pensa sobre a escrita, apoiando-se nos livros de literatura, nas histórias que contam para ela, das situações que vive, na “leitura do mundo”. Assim, vai ativando os chamados neurônios da leitura, formando as conexões que modificarão o cérebro para chegar a novas aprendizagens.
A experimentação das crianças nas múltiplas linguagens, da música, da dança, das artes, das histórias, dos jogos, de brinquedos e brincadeiras da oralidade são exemplos do processo pelo qual passam nas fases da aprendizagem inicial da leitura e da escrita.
Algumas dinâmicas nessa aprendizagem exigem uma intervenção individualizada, com questões direcionadas a produzir o raciocínio que estimule a evolução das crianças. Agrupamentos menores, com a ajuda de materiais concretos, vivências corporais e jogos são organizados pelas professoras ao identificar essas necessidades, afinal, os alunos não aprendem da mesma forma nem ao mesmo tempo. Há que se respeitar os ritmos e criar os desafios adequados.
As habilidades socioemocionais e afetivas formam o eixo de todo o processo. É a partir do convívio social com colegas e professores, dos estímulos dos ambientes de aprendizagem que se mobiliza o desejo de aprender, de buscar o que falta para construir os conhecimentos.