Alfabetização

A música como facilitadora da alfabetização

Trabalho integrado otimiza o processo de aprendizagem da escrita e da leitura no Santa Maria – a resposta das crianças é genial!

Autoria: Alessandra Seidenberger – Departamento de Comunicação do Colégio Santa Maria

O período de alfabetização traz muita expectativa para crianças e famílias. De um lado, a vontade das crianças de aprender a ler e escrever; do outro, a ansiedade de mães e pais em ver os filhos se desenvolvendo dentro do esperado. É importante lembrar que cada criança tem seu tempo e nem todas se desenvolvem simultaneamente e no mesmo “ritmo”. É aí que o trabalho da escola entra!

Aqui no Santa Maria, o uso da música no processo de aprendizagem da leitura e da escrita tem trazido muitos ganhos para as turmas do 1º ano, que estão apenas começando. O planejamento das aulas é integrado e, portanto, não conflita com a metodologia usada pela professora polivalente. Por ser um instrumento potente de socialização e um auxiliar para a concentração e a memória, no primeiro semestre, o foco é nas cantigas e parlendas. “Nós fazemos uma parceria com a professora Luciane Dege, de Música, por conta dessas habilidades de atenção, de concentração, de memória, que as crianças precisam no início do ano”, explica a professora Cristiane Alarcon. A educadora está há 12 anos no Santa Maria, todos dedicados ao 1º ano do Ensino Fundamental. “A linguagem oral é resgatada por meio da música também, que auxilia na ampliação do vocabulário”, completa.

Cristiane Alarcon cita a antropóloga e pesquisadora Elvira Souza Lima, que defende o uso da música na aprendizagem. “Elvira diz que o nosso cérebro é musical. Os estudos da Neurociência – e a gente se pauta bastante por eles – impacta muito as áreas do nosso cérebro positivamente, então a gente vê isso como um facilitador para essa aprendizagem”.

Paixão pela bateria

Essas imagens foram captadas durante uma das aulas da professora de Música, que liberou o aluno Lucas Osiro para levar a bateria de estudo dele, e assim dar a sua contribuição! “O Lucas toca muito bem, ele é super interessado. A parte rítmica, tão importante para a aprendizagem, tem sido muito valiosa na vida escolar dele”, relata Luciane.

“Eu cantava para o Lucas desde pequeno, e ele sempre demonstrou interesse”, diz a mãe do aluno, Roberta Osiro, que colocava músicas para ele desde o ventre, o que acabou se tornando um estímulo antes mesmo de ele nascer. “Quando perdi minha mãe, eu ouvia algumas músicas que ela gostava, especialmente do Queen, e o Lucas começou a pegar tanto gosto que nós começamos a investir nesse sentido. A gente ia para alguns parques, ele achava gravetos e começava a batucar. Em casa, ele organizava as caixas de papelão como se fosse uma bateria. Em um aniversário, o Lucas ganhou uma bateria dos avós e, a partir daí, em vez de dar brinquedos, a família o presenteava com instrumentos musicais de todos os tipos”.

Roberta Osiro, que é professora, também associa a importância da música a algumas habilidades necessárias para a alfabetização. “A gente sabe, pela Neurociência, que a música estimula o cérebro, o foco de atenção, a habilidade motora. Eu vejo que ele se concentra mais na hora da atividade”, conclui.

A dinâmica das aulas

Luciane Dege, “a professora-compositora”, leva o teclado e o violão para as aulas, sempre alternando os instrumentos. Formada em Música e Artes Plásticas, ela compõe canções desde os sete anos de idade, ou seja, quando acabara de ser alfabetizada.

Para esta faixa etária, os instrumentos de percussão são os mais utilizados, e as crianças amam. “O próprio pulsar do coração já é uma música. Eu faço uma sensibilização, peço para eles colocarem a mão no coração para sentirem. Tudo o que está dentro do corpo é ritmo,” explica a educadora. “Pegamos o que a música tem para contribuir, e que possa ser incorporado ao processo de alfabetização. Nas reuniões que fazemos em equipe, estamos sempre buscando soluções para auxiliar nesse processo. A ludicidade da música também auxilia muito na aprendizagem”, conclui.

Lis Yumi Y. Mazeto é aluna da professora Cristiane Alarcon, e também manifesta muito interesse por música. Menina precoce, estava no Jardim II na época das aulas remotas, por conta da pandemia, e ali, com apenas quatro anos, começou a ler. “Foi um susto quando nós descobrimos”, explica a mãe, Paula Naoe Yoshida. “Ela curte letra de música, entra no aplicativo e coloca o que ela quer ouvir”.

Por essa razão, Lis gosta muito de participar das aulas com a professora Luciane. A mãe tem plena consciência da relação entre a música e o letramento. A maioria das crianças tem muita conexão com cantigas, com as parlendas. Eu acho que a questão das rimas faz muita diferença na percepção deles em relação aos sons das sílabas. Como a alfabetização é um processo que leva anos, a música é uma referência muito grande para eles, desde a Educação Infantil”, diz.

Saiba Mais!

Em 2009, Elvira Souza Lima publicou em seu blog uma reportagem sobre a contribuição da música para a educação. Veja um trecho da entrevista que ela concedeu à jornalista Paula Caires.

O papel da música é enorme, conforme constatado pelas pesquisas na área de neurociência. Sabemos disto, também, através da antropologia, que nos mostra o papel central que a música tem na organização dos grupos sociais. Na verdade, a história da evolução da espécie humana deixa bem claro que a música foi um dos fatores fundamentais de desenvolvimento da espécie, presente antes mesmo da fala. Para a criança, a música é fator de humanização, de congregação com os adultos e com as crianças mais velhas. Tem um papel na identidade cultural e é fator decisivo no desenvolvimento da função simbólica da criança”.

Elvira Souza Lima é pesquisadora em desenvolvimento humano com formação em neurociências, psicologia, antropologia e música. A antropóloga trabalha com pesquisa aplicada à educação, mídia e cultura, e já ministrou cursos de formação em neurociências no Santa Maria.

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