Desenvolver autonomia infantil é um desafio diário que envolve aspectos sociais, morais e intelectuais
Autoria: Fernanda S. Lugatto – professora do Pré
A autonomia é um objetivo importante a ser alcançado na educação de uma criança. É uma conquista diária e desenvolve-se de maneira social, moral e intelectual; não há como dissociar os três aspectos.
Crianças que desde pequenas são encorajadas a tomar decisões, a pensar para resolver pequenos problemas e a tentar executar sozinhas tarefas simples, gradativamente conquistam maior autoconfiança e independência. Mas para isso, precisamos diminuir nosso “poder adulto” e cuidar para não desencorajar, dar respostas prontas e fazer por elas aquilo que têm capacidade para fazer sozinhas.
Muitas vezes confundimos o cuidado excessivo com o afeto. E então, essa vontade de ajudar a todo momento pode, na verdade, atrapalhar o desenvolvimento da criança. Além disso, na correria do dia a dia, acaba sendo mais fácil fazer por elas do que permitir que façam sozinhas.
Aprender a controlar essas ações que, muitas vezes, podem ser involuntárias, é necessário. Desenvolver a autonomia desde cedo ajuda, inclusive, no desempenho cognitivo das crianças. Por mais que não se perceba, a conquista da autonomia está relacionada ao desejo… Desejo de tentar, de arriscar e de conseguir, pois a criança se sente encorajada e capaz. O mesmo ocorre na aprendizagem… Aprender também requer desejar, arriscar-se, buscar…
Notamos isso no processo de alfabetização. Ler e escrever é aventurar-se. Nas primeiras escritas no Pré (turmas de cinco anos, em média), a criança “ousa” utilizar letras que representem suas hipóteses sobre a escrita de uma palavra. “Ousa” decodificar símbolos (letras), atribuindo-lhes um som e significado que até então não lhe faziam sentido algum, como por exemplo, M com A, transformam-se em MA. Faz este movimento para cada sílaba, até compor toda a palavra. Ela precisa tentar muitas vezes, abandonar hipóteses, criar outras, até chegar a uma forma convencional. Mas para isso precisa querer, tentar, atrever-se…
Quando a criança é atendida o tempo todo, não é incentivada a buscar respostas ou tentativas para a resolução de problemas, e espera que o outro faça por ela, perde o desejo, fator tão importante na conquista da autonomia e aprendizagens.
Como educadores, estimulamos esta autonomia intelectual, moral e social o tempo todo. Seja durante uma assembleia para a resolução de um conflito ou algo que está incomodando o grupo, seja nas ações cotidianas do dia a dia, como calçar o tênis ou tirar o casaco e inclusive no desenvolvimento da aprendizagem, no qual em todas as situações as crianças são encorajadas a pensar, vivenciar conflitos cognitivos e buscar respostas para a solução de dúvidas ou problemas.