Desafios e possibilidades do uso da Inteligência Artificial na escola: uma reflexão sobre sua utilização no dia a dia de estudantes e professores
Autoria: Darci Garcia – Professora de Língua Portuguesa da 3ª série do Ensino Médio
Muito tem sido discutido acerca da nova ferramenta capaz de construir textos de diferentes gêneros e formatos de forma concisa e com uso dos recursos linguísticos apropriados. Embora tenha nascido na língua inglesa, esta ferramenta aprendeu também a nossa língua de forma consistente.
Nesse sentido, mais uma vez surgem teorias da conspiração afirmando que se trata de uma nova ameaça ao ensino formal das escolas e aos professores, situação similar à dos anos 2000, quando se afirmava que se confiaria mais no Google do que nos professores; com o advento dos celulares, novamente o desestímulo e a preocupação com os riscos de cola… E não parou por aí pois, com a pandemia, a tecnologia voltada para as aulas online fez novamente surgir o “fantasma” da elaboração de provas com auxílio das informações propiciadas por esse tipo de tecnologia.
Mas, o que fazer? Retrocedermos à caverna de Platão e vivermos dos reflexos do que acontece lá fora? É importante perceber que toda tecnologia voltada ao desenvolvimento do conhecimento deve estar na escola, deve ser material de trabalho dos alunos e professores. Trata-se de um aliado, já presente entre nós, queiramos ou não. Rejeitá-lo significa não propiciar ao aluno trilhar esses novos caminhos com consistência, pertinência, ética e responsabilidade.
No caso do 3ª série do Ensino Médio, vimos e discutimos a atuação do Chat GPT resolvendo a prova do Enem de 2022, debruçando-se sobre questões e elaborando o texto pedido, cujo tema versava sobre Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil. Por ser uma tecnologia voltada a textos, houve a necessidade de se aplicar uma prova a um aluno com deficiência visual, que explicaria a imagem, o que gerou uma certa dificuldade.
No início deste ano, a Inteligência Artificial (IA) ainda não fazia a leitura de imagens, o que parece já ter sido desenvolvido. Além do mais, as questões são relativas à nossa realidade, com particularidades específicas, acerca das quais a IA não foi bem informada.
Em relação ao texto, houve uma produção considerada frágil e inconsistente. Mas, se o forte dessa IA é a produção textual, o que aconteceu? Na verdade, a prova do Enem também tem particularidades, notadamente em relação ao parágrafo conclusivo, que pede encaminhamento relativo ao tema, ou seja, quem promoverá a valorização dos povos e comunidades tradicionais? Como fará isso? Onde? Quando? Por que o fará?
Assim, embora tenha se saído muito bem em provas dos EUA, onde tem total entendimento dos recursos linguísticos e de contextos de todo tipo, teve desenvolvimento inferior no Enem, mas mesmo assim chegou a um nível razoável, tendo em vista as próprias condições, ou seja, menos de 700 pontos, quando o máximo é 1000. Talvez não fizesse a faculdade dos seus sonhos no Brasil…
Bom, a que conclusão chegamos? Entende-se que a escola é responsável pela construção do conhecimento formal do aluno, que lhe propiciará a entrada na sociedade e no mercado de trabalho com segurança. A escola envolve-se com o futuro do aluno. Portanto, questionar se o Chat GPT é apenas um meio de cola é muito simplista, e precisamos ir além com essa instrumentalização, pois é parte da vida do aluno, e importa levá-lo a interagir com esses novos meios, de forma a acrescentar a ele e à sociedade.