Da pesquisa às histórias de vida: projeto no Santa Maria aproxima gerações, em um emocionante intercâmbio de experiências
Autoria: Fernanda Lugatto – Professora do Pré
Crescemos somente no dia do aniversário?
Foi essa pergunta que “provocou” as crianças do Pré a começarem a pesquisar sobre crescimento e as mudanças que acontecem no corpo, em decorrência do tempo e do ciclo da vida.
Durante algumas pesquisas, elas descobriram os cabelos brancos e as rugas, que inicialmente chamaram de “linhas no rosto”. E assim, chegaram à velhice.
Além das mudanças físicas observadas nas pesquisas, um caminho mais poético e filosófico sinalizou novos rumos ao nosso projeto. Por meio de histórias, descobriram que as “linhas do rosto” significam “passagem do tempo, vida, existência, histórias e memórias”.
Para vivermos essa experiência, passamos a receber visitas semanais de avós, um lindo encontro entre gerações. Integrações que se deram em uma via de mão dupla.
As crianças tiveram a oportunidade de ouvir lindas histórias, muitas delas sobre a imigração no Brasil, quando seus antepassados estrangeiros buscavam melhores condições de vida; histórias sobre a simplicidade da infância com bonecas feitas com sabugo de milho, bolas de meia e carrinhos de lata, da felicidade com a chegada dos netos e das escolhas mais livres que a fase idosa proporciona.
Todo o grupo aprendeu de forma natural sobre o processo de envelhecimento e os laços sólidos que devemos ter com avós e bisavós, afinal, as pessoas mais velhas são guardiãs de lindas experiências.
Os avós, por sua vez, viveram momentos preciosos, compartilharam histórias que constituem suas identidades e dividiram seus talentos, na realização de oficinas com a turma. Tivemos sushi, bolo de cenoura, brigadeiro, bolas de meia, pintura de telas, confecção de viveiro para pássaros, contação de histórias, dentre outras.
Todos esses momentos de diálogos e narrativas proporcionaram espaços de afeto, troca e encantamento baseado no respeito mútuo às diferenças de cada fase da vida.
Além dos encontros, visitamos o lar de idosos do Santa Maria, o Residencial Santa Cruz. Lá, as crianças conheceram pessoas que necessitam de cuidados especiais, como dificuldade de locomoção e perda cognitiva.
Foi perceptível no olhar e no gesto das crianças a admiração e o respeito por quem viveu tanto tempo e, no olhar dos idosos, a alegria que a infância proporciona. Observamos, por exemplo, a delicadeza de um filho conduzindo sua mãe na cadeira de rodas.
Ali estava o “ciclo da vida” que lemos nos livros. Vida que em qualquer fase exige o cuidado do outro ou para com o outro, além de gratidão, respeito e amor.
Uma das metas do trabalho com a Educação Infantil no Colégio Santa Maria é o desenvolvimento integral da criança, a formação de um indivíduo com valores humanos e cristãos, que enxerga além de si e que seja atuante na sociedade. E na infância, este trabalho começa no cuidado, na admiração, no afeto e em atitudes éticas com os colegas, com os pais e irmãos, avós, vizinhos, ou com qualquer adulto com o qual a criança convive.
Com este trabalho, temos notado que os diferentes tempos da infância e o envelhecimento estão sendo percebidos e valorizados em suas particularidades.
Esta experiência ficará na memória e no coração de todos. De acordo Guilherme Augusto Araújo Fernandes, personagem de uma das histórias que lemos, “memória é algo bem antigo, que faz chorar, faz rir, vale ouro e é quente”.