Professora explica o Módulo Suplementar do Novo Ensino Médio, criado para permitir a revisão de conteúdos cobrados no ENEM e em vestibulares.
Autoria: Sônia Brandão, professora de História da 3ª série do Ensino Médio do Colégio Santa Maria
“A coragem que vence o medo tem mais
elementos de grandeza que aquela que o não tem.
Uma começa interiormente; outra é puramente exterior.
A última faz frente ao perigo; a primeira faz frente, antes de tudo,
ao próprio temor dentro da sua alma” – Fernando Pessoa
Entramos em 2022 com uma sensação comum de que a avalanche provocada pela pandemia, também no mundo da educação, entraria num estágio final. Muitos votos de confiança e, sobretudo, muitas expectativas do quanto poderíamos aproveitar dessa experiência coletiva.
Trabalhando com os desafios do Novo Ensino Médio no Colégio Santa Maria há dois anos, já nos colocávamos desde meados do ano passado com as particularidades da 3ª série, último estágio do ciclo de grande reformulação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), aplicada desde 2020.
As perguntas eram inevitáveis: como chegaria essa nova geração de alunas e alunos no último ano? Que mudanças no comportamento diante do conhecimento poderíamos observar? Como suas habilidades e competências teriam evoluído e no que essa transformação havia de determinante para nosso trabalho em 2022?
Pois bem. O que esperavam essas novas turmas já era de grande quilate: unidades do Núcleo Básico adensadas e preocupadas com o encerramento do ciclo, novos itinerários de Área e Eletivas e um núcleo complementar de trabalho representado pelo Módulo Suplementar. É sobre este último que hoje quero falar.
Adendo histórico
Talvez a primeira grande certeza que devemos admitir é que os exames externos não são uma invenção deste ou qualquer outro colégio. Processos de seleção para acesso ao Ensino Superior são um fato em nosso país desde há muito. Seria interessante lembrar que esse formato eliminatório que temos hoje (exceto para o ENEM que cumpre esse papel, mas numa grade de experiência diferente) toma corpo na esteira das mudanças empurradas goela abaixo depois do Golpe de 1964. Só para ilustrar, lembremos as bandeiras no explosivo 1968 por mais vagas nas universidades e contra os acordos MEC-USAID. Não por acaso o final dos anos 60 assiste ao nascimento dos cursos pré-vestibulares, que ganham um espaço quase que complementar à formação de gerações que saem do Ensino Médio.
Vagas limitadas, concorrência crescente, exames que exigem grande volume de conteúdos e, na última década, com algum grau de sofisticação quando pensam em interpretação, aplicação de conceitos, interdisciplinaridade. Mais alunas e alunos chegam nesse funil de acesso ao Ensino Superior, e qualquer instituição de Ensino minimamente comprometida com a realidade não pode e deve fingir que não a vê. Não inventamos os exames seletivos, mas também não podemos ignorar que existam e que façam parte da vida das e dos estudantes.
Módulo Suplementar
Na reformulação do Ensino Médio, o Santa Maria previu para a 3ª série um núcleo de aulas no período da tarde que foi chamado de Módulo Suplementar. Nele, pretende-se revisar os temas que foram contemplados no Núcleo Básico em todas as áreas de conhecimento e complementar aqueles conteúdos que são cobrados pelos exames externos, mas que, por opções pedagógicas, foram preteridas em favor de outros que melhor serviram para o desenvolvimento das habilidades e competências previstas pela BNCC.
Para oferecer um exemplo: na Unidade Curricular de História, como temos garantido um excelente e completo curso de Brasil, Estados Unidos e América Latina no Núcleo Básico (aquele que é oferecido para todas as turmas) e nos Itinerários (presente nos três anos, para as turmas que optam pelo mergulho e aprofundamento em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas), o Módulo Suplementar começa complementando os temas do que convencionamos chamar de História Geral, particularmente da Europa, desde a Antiguidade Clássica até a entrada na Guerra Fria. Ao mesmo tempo, a Unidade de Geografia no Suplementar trabalhará os temas de Geopolítica do pós-Segunda Guerra até os nossos dias. No segundo semestre, mais curto e mais tenso por conta da proximidade desses exames, revisaremos História do Brasil desde o processo de colonização até o governo Bolsonaro. Repare que são táticas e funções diferentes que se comunicam entre si e com o curso regular do período da manhã. Só assim o Módulo Suplementar faria sentido pedagogicamente dentro da proposta de Ensino Médio do Santa Maria.
Enquanto os exames externos não se adaptarem aos novos tempos do Ensino Médio, talvez com vestibulares seriados e oferecidos por Áreas de Conhecimento, o desafio será grande. Devemos garantir em paralelo e numa dinâmica diferente que Básico e Suplementar se encontrem, combinem e complementem. Essa é a fórmula, acreditamos, para oferecer às e aos estudantes seu lugar no mercado, na sociedade e no futuro.