De que forma as relações no ambiente escolar podem colaborar para a construção do conhecimento e para o amadurecimento dos nossos adolescentes? Como lidar com questões que surgem no dia a dia?
Autoria: Alessandra Seidenberger – Departamento de Comunicação do Colégio Santa Maria
Ao longo da vida de estudantes, passamos grande parte do tempo dentro da sala de aula convivendo com colegas e professores. Vivemos etapas que vão mudando a cada quatro anos, desde a educação infantil até chegarmos aos últimos anos da educação básica. Nesse contexto, um turbilhão de situações mexe com o dia a dia de cada criança e de cada adolescente e, consequentemente, com as famílias e os educadores. Experiências diversas, desenvolvimento, aprendizagem, amadurecimento e…no meio de tudo isso, alguns percalços também, quando nem tudo caminha conforme o esperado.
Por essas razões e, sobretudo pelo momento delicado que o mundo viveu com a pandemia, que alterou a rotina de todos, o ambiente escolar foi um dos mais atingidos. A convivência diária deixou de existir de uma hora para outra e, de certa forma, prejudicou as relações e atrasou alguns processos na vida dos estudantes de todas as faixas etárias. A retomada ao “normal” depois de dois anos gerou uma nova adaptação, a famosa saída da zona de conforto.
Vamos nos ater aqui ao Ensino Fundamental II, que abrange a faixa de 11 a 14 anos de idade. São estudantes que saíram da infância, estão passando pela pré-adolescência e outros já estão lá! Tudo em um curto espaço de tempo, o que requer um olhar bastante atento e uma boa dose de “jogo de cintura”. Muito tem sido dito a respeito do diálogo, da escuta ativa e da empatia, mas na prática, atingir esse objetivo é um processo que requer tempo e colaboração de ambas as partes. Escola e famílias são pilares importantes na formação de cidadãos. Parece clichê, mas é a pura verdade.
Que o digam os professores e coordenadores, que estão ali, no cotidiano, administrando questões pedagógicas e comportamentais dos nossos jovens. A experiência deles mostra que o caminho para o amadurecimento é dar espaço para o exercício da autonomia. É permitir que cada estudante possa ter uma determinada postura na resolução de conflitos com uma comunicação assertiva e empática.
Algumas situações cotidianas podem ser resolvidas em sala de aula, entre os próprios alunos e alunas, e também com os professores. “Um conflito bem comum acontece quando uma lição de casa não é apresentada, ou porque o aluno não fez ou porque ele esqueceu de levar o caderno para a escola. Quando fazemos a cobrança, o estudante vai reagir num primeiro momento. Nesse caso, é preciso conversar com o aluno ou a aluna, sem a necessidade de levar para a coordenação. Como são cinco aulas por semana para cada turma do 6º ano, o vínculo que eu tenho com eles é grande”, relata a professora Melissa Ferronato, que leciona Língua Portuguesa há 8 anos no Santa Maria. Não por acaso, a comunicação faz parte do dia a dia dela.
Na plataforma do Google For Education, por exemplo, existe um chat que possibilita a comunicação direta com o professor ou a professora. Fazer uso deste canal é uma das formas do estudante exercer autonomia. “A comunicação com os alunos precisa ser clara desde o começo do ano, quando colocamos os procedimentos, as orientações. Essa clareza também facilita o diálogo com as famílias” conclui Melissa.
Fernanda Lobo é mãe de três filhos, um deles já concluiu o Ensino Médio no Santa Maria, e outras duas meninas estão no colégio. “No Fundamental II, apesar de eles terem autonomia para resolver as coisas, ainda é muito importante essa parceria da escola com a família porque é o momento que eles estão deixando de ser crianças com uma série de questões que são novidade, tanto para eles quanto pra nós. A escola é mediadora e, ao mesmo tempo, um suporte e um agente de mudança”, afirma a advogada.
Quando foi para o 7º ano, Felipe, o filho mais velho, teve muita dificuldade na adaptação com os novos colegas de classe, por ser bastante tímido. “O dia que ele chegou na escola, quando ele viu a lista da sala e não reconheceu os amigos na turma, disse que não queria ficar. Foi bem difícil no início, e nós precisamos do diálogo com a escola naquele momento. Conversamos com a orientadora e, junto com os professores, ela ‘mapeou’ a classe para identificar os colegas com os quais o Felipe poderia se identificar. No fim das contas, ele se enturmou, mas foi um trabalho conjunto”, diz Fernanda, que tem uma filha no 7º ano, a Mariana. Com temperamento diferente do irmão, ela tem mais facilidade para se enturmar. Já teve a experiência de mudar de turno e não conhecer ninguém na sala, mas sem maiores dificuldades. Com relação ao diálogo, Fernanda entende que é algo natural. “Eu sempre encontrei eco do lado da escola. Esse ano a Mariana teve um pequeno problema com uma atividade de Língua Portuguesa, e eu fui atendida rapidamente pelo coordenador”, conclui.
Cotidiano pós-pandemia
Durante as aulas remotas no período da pandemia, os procedimentos mudaram pela realidade imposta naquele momento. Com o retorno à rotina escolar, a adaptação foi mais lenta, sobretudo no ano passado. Estudantes que ainda estavam no Fundamental I e passaram dois anos nas aulas remotas, mudaram de etapa justamente na volta ao “normal”. Na retomada de alguns processos essenciais para o andamento das aulas, os alunos não estavam mais habituados. Nesse contexto, as fragilidades pedagógicas e de comportamento ficaram mais intensas.
“Durante a pandemia, os problemas comportamentais aconteciam com mais frequência”, diz o professor Luís Fernando Branco, de História. Saindo do contexto pandêmico, o educador entende que ano passado foi mais desafiador, mas este ano os estudantes estão bem mais adaptados ao ritmo escolar e à sociabilidade. Do ponto de vista pedagógico, “quando há uma fragilidade, as reuniões são importantes para que a gente consiga posicionar a família e, ao mesmo tempo, acolher e entender como é o aluno em casa, se existe alguma dificuldade. Isso nos ajuda a mudar a maneira como estamos lidando com aquele estudante. Às vezes é necessário um acolhimento mais afável ou uma simples conversa para que ele entenda que está sendo cuidado”, conclui.
Canal de comunicação aberto com a escola
Aluna do 9º ano, Marina Melchior é uma estudante que está adaptada à rotina escolar e aos procedimentos. “Ano passado, a Marina teve um problema pessoal, o que interferiu um pouco no dia a dia dela com a escola. Nós procuramos a coordenação, que prontamente nos atendeu e o problema foi resolvido”, conta a mãe, Renata Melchior Lopes. Mesmo antes da família procurar o colégio, a própria aluna já tinha ido conversar com a orientadora. O mesmo aconteceu quando um trabalho dela não tinha sido lançado no sistema, e ela foi até o professor e resolveu diretamente. “Aqui em casa nós incentivamos que nossa filha exerça autonomia porque ela vai levar para a vida”, diz Renata, que tem outro filho, já na universidade.
Há 14 anos na orientação pedagógica, 12 deles só no 7º ano, Marcia Rufino tem a experiência de quem já passou por diversos momentos e conflitos para resolver, como mencionado em dois exemplos acima. Coordenando atualmente o 8º ano e a área de Linguagens, ela trabalha em equipe com os outros orientadores do Ensino Fundamental II, e valoriza o esforço conjunto e a comunicação assertiva.
“Espaço para o diálogo sempre vai existir dentro de um percurso trilhado com os alunos, paralelamente ao percurso trilhado com as famílias. É uma formação também; não parece, mas saber se colocar e exercer protagonismo é curricular. Cada série tem a sua peculiaridade, e nós damos as ‘dosagens’ de protagonismo aos poucos; é por isso que fazemos as assembleias e elegemos um representante, o que não exclui a possibilidade do contato família-escola. Conhecer cada adolescente e cada família também facilita a nossa comunicação”, diz a educadora.
“O diálogo é a essência da educação. O diálogo não significa apenas que as pessoas conversam entre si. O coração do diálogo é o movimento de amor. É um ato de amor. Em um diálogo genuíno, há uma empatia que permite que a gente se importe com o outro, e há uma esperança que permite que a gente acredite no poder do outro”. Bell Hooks