Educação em Pauta, Mundo da Leitura

Jogos de tabuleiro: o encontro da diversão com a literatura

Alunos do 6º ano embarcam na criação de jogos de tabuleiro, a partir da narrativa de uma obra literária; uma mistura do resgate dos jogos tradicionais com o encanto dos grandes clássicos

Autoria: Melissa Ferronato – Professora de Língua Portuguesa

Quem não se lembra de ter passado horas com amigos ou parentes, na infância ou na adolescência, em partidas de Banco Imobiliário, Detetive, War ou outro jogo e tabuleiro?  Muitos desses jogos estão “acomodados” em algum canto de nossa memória afetiva, que, quando acionada, nos traz lembranças de momentos de interação   e lazer, onde pensar estratégias em segredo ou em equipe, com amigos e familiares, era o que mobilizava o momento.

Apesar do aparecimento cada vez mais intenso dos videogames e aplicativos, os jogos de tabuleiro não perderam seu encanto e continuam fazendo parte da rotina de lazer de muitas famílias.  É o caso da aluna Rafaela Barcia Kiçula, que diz ser apaixonada por esses jogos.  Para ela, as estratégias e os desafios que eles trazem são muito interessantes e divertidos.  “Em casa, somos cinco, e em algumas partidas fazemos duplas porque tenho um irmão de cinco anos, e é uma forma de ele também participar”, acrescenta.

Muitos jogos de tabuleiro modernos possuem narrativas ricas e temas elaborados, semelhantes aos encontrados em obras literárias. Eles frequentemente apresentam histórias de fundo, personagens, cenários e enredos complexos, proporcionando aos jogadores uma experiência imersiva semelhante à leitura de um livro.

E foi essa estreita relação com a literatura que permitiu a proposta de trabalho encaminhada aos alunos do 6º ano: criar jogos de tabuleiro a partir da narrativa do clássico A volta ao mundo em 80 dias (Júlio Verne), uma adaptação em história em quadrinhos que entusiasmou esses jovens leitores.

Na trama, o Sr. Philleas Fogg aposta 20 mil libras com os colegas do Reform Club de Londres que é possível dar a volta ao mundo em oitenta dias.  À aventura do lorde inglês junta-se seu mordomo francês, Passepartout.  Um encontro inesperado e uma perseguição policial trarão um toque de aventura e suspense irresistível à narrativa; ingredientes perfeitos para ganhar plasticidade em um jogo de estratégias.

Para Gabriel Schwengber Corrêa foi uma atividade bastante envolvente, pois além de ter gostado muito da leitura, o jogo criado por seu grupo o fez revisitar todo os fatos da história e, dos acontecimentos mais importantes, aos detalhes mais escondidos, criar situações desafiadoras para os jogadores.

“Eu e meus quatro colegas tivemos muitas ideias para o percurso e criamos perguntas indicando no envelope as páginas do livro em que estavam as respostas.  No fim, levei o jogo para casa e terminei de montar o tabuleiro, os pinos e a caixa com minha mãe. Gostamos muito desse tipo de atividade”, contou ele.

As aulas destinadas à elaboração do trabalho foram feitas na biblioteca, e foi muito entusiasmante acompanhar os alunos falando sobre a literatura, partilhando a narrativa em comum, pois uma das maiores contribuições da literatura é permitir boas conversas e ouvir o que o outro tem a dizer.

Nas palavras da escritora colombiana Yolanda Reyes, especialista em literatura, “os livros de leitura são atividades de vida, leituras de vida e conversas sobre a vida; deste modo é urgente que aprendamos a conversar”. E por que não aprendermos a conversar e interagir em boa companhia ao redor de um tabuleiro colorido e criativo, cheio de desafios literários para resolver?

Nesse encontro da arte com a brincadeira ocorre uma experiência cultural que possibilita o despertar de uma sensibilidade estética.

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