Educação Infantil, Metodologias Ativas

O “imprevisto” no trabalho com projetos

A aprendizagem por projetos pressupõe o olhar permanente às demandas dos alunos e a revisão constante do que foi previamente planejado. E isso não é um problema, apenas uma metodologia que foca no interesse genuíno das crianças;

Autoria – Elizabeth Nishiyama Muniz, professora do Jardim II

O início do ano traz um novo grupo e com ele novos assuntos, curiosidades, perguntas, inquietações… Neste viés, as professoras da Educação Infantil do Colégio Santa Maria trabalham como mediadoras de aprendizagem com enfoque no espírito investigativo, colaborativo e relacional. Na prática, significa investir nos interesses que surgem das interações, das ocupações nos espaços, ou seja, um encontro com a escuta, observação e provocação. É o exercício de levar para o campo vivido aquilo que as crianças querem investigar, experimentar, pesquisar ou, até mesmo, descartar.

Essas professoras, a partir dos “imprevistos”, cuidam para desconstruir olhares tendenciosos que teimam em levar para um lugar que “acham” que as crianças querem estar, evitam investir naquilo que nem sempre vai ao encontro do que a turma deseja, mas sim, no que acreditam estar na direção dos interesses e expectativas do grupo. Por exemplo: ambientar uma sala com imagens de bichos, moradores de “tocas” e “buracos” enquanto as crianças descobrem “pegadas” e se encantam por elas… Disponibilizar objetos de luzes e sombras nos espaços de sala e o grupo está empilhando toquinhos, madeiras, blocos… E até mesmo, partir de “mapas afetivos” e acabar chegando nas bruxas, feiticeiras e suas poções mágicas.

No entanto, quando podemos dizer que um projeto não deu certo? Dar certo é tudo sair de acordo com nossas expectativas? Dar certo é fazer dos percursos prováveis algo definitivo, num caminho rígido, em que tudo precisa sair programado? Na verdade, não há uma receita. Como diz Alice Proença, “entre o real, o ideal e o possível”, em algumas ocasiões, precisamos mudar rotas por conta dos indícios e pistas que revelam os interesses genuínos das crianças.

Para isso, é preciso revisitar, replanejar, trocar experiências com parceiras e orientadora.  Um gestar em movimento reverso: relançar propostas intencionalmente planejadas, refletindo amplitude para proporcionar momentos sem roteiros ideais, mas possíveis, a partir da escuta, do lançamento de provocações e criação de contextos a partir do que observamos e interpretamos sobre as múltiplas linguagens que as crianças apresentam no cotidiano.

Trilhar caminhos para evitar o “engessamento” e a tendência de cristalizar olhares, redobrando a atenção para uma escuta criteriosa e atenta, a fim de possibilitar espaços significativos e interativos, que encoraje e sustente a potência e a motivação das crianças, legitimando suas teorias e respeitando o tempo de cada uma com suas subjetividades em seus processos e percursos.

Como educadores, temos de desempenhar esse papel com total consciência de nossa vulnerabilidade, o que significa aceitar dúvidas e erros, assim como a possibilidade de surpresas e curiosidades, que são tão necessárias aos verdadeiros atos de conhecimento e criação. Isso requer um educador ‘poderoso’, o único tipo adequado à nossa criança igualmente ‘poderosa’”. (RINALDI, p. 227)

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