Ensino Médio

Educando por projetos

Uma das ações educativas mais envolventes é a educação por projetos, que também representou uma grande perda imposta pela pandemia.

Autoria: Valéria Conte Delbem, professora de História do Ensino Médio do Colégio Santa Maria*

Educar por projetos envolve todo um planejamento que se inicia com a relevância e atualidade da temática. A escolha e o sentido do projeto também passam pelo envolvimento das educandas/os e, muitas vezes, pela sua participação ativa. Um colegiado, uma plenária, assembleia, representações diversas podem garantir a participação ativa dessas/es estudantes em todo o processo. Outro caminho são as efemérides, as datas que marcam a história do país, a partir de momentos comemorativos ou de profunda reflexão.

Ao longo de mais de 70 anos de história, o Colégio Santa Maria vivenciou uma miríade de projetos que ajudou a construir o sentido de cidadania em sua comunidade. Uma escola que tem em seus quadros professoras/es e coordenadoras/es que entendem a importância da educação de forma viva e que lembrar também é resistir.

Amplas discussões

Projetos como Ike Zumbi, por exemplo, contaram com palestras, exposições, apresentações teatrais e musicais e coloriram a Escola promovendo debates que trouxeram à luz o compromisso com uma educação antirracista.

Encampado pelo Fundamental II e a (EJA) Educação de Jovens e Adultos com seus convidados e debates, o projeto Ciclos Democracias abordou questões como moradia, transporte, educação, participação política, enfim, temas que transitam na dimensão da luta e do exercício da cidadania plena, numa cidade que se mostra cada vez mais excludente e violenta.

Em 2018, o Ensino Médio vivenciou o Projeto Ícaro, que nasceu da demanda das/os alunas/os discutirem saúde mental na adolescência, tema cada vez mais urgente e que se relaciona com uma sociedade competitiva, que opera na lógica da busca por sucesso e que adoece até crianças. Grupos de estudos, debates, filmes, palestras se espalharam pelos pátios da Escola e, além de discussões profundas, possibilitou o encontro dessas/es jovens com pessoas de várias faixas etárias que sentem essas pressões e buscam caminhos de afeto e solidariedade para (re)existir em uma sociedade do cansaço.

Distanciamento não planejado

Entre tantas mazelas, a pandemia também impossibilitou a escola de viver aquilo que mais nos anima: o contato entre pessoas e saberes. Saberes de alunas/os, professoras/es, educadoras/es e funcionárias/os, e que nesse encontro faz nascer uma educação para a cidadania plena. As aulas remotas nos ceifaram dessa experiência, mas a retomada trouxe à luz temas urgentes que precisam ser debatidos pelas diferentes áreas por meio de seus currículos, mas também via projetos que envolvam toda a escola e seus segmentos.

Partindo da curiosidade de algumas estudantes e famílias sobre o gênero neutro na língua, a última experiência vivida pela 2ª série do Ensino Médio foi o Projeto Viva Língua, Viva! O tema mostra-se pertinente em uma sociedade que se transforma, assim como a língua, a partir de demandas e lutas de grupos que não se sentem representados.

Assim, a Escola se compromete, portanto, com uma educação cidadã, inclusiva e antirracista em tempos em que se é preciso afirmar o óbvio.

*Valéria Conte Delbem é professora do núcleo básico (“Brasil na América Latina”) e do itinerário de Ciências Humanas (“Projeto de Ação Político-Social – ‘Arquitetura da Desigualdade: um estudo sobre as assimetrias e desigualdades raciais e espaciais na cidade e interior de São Paulo’)

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