Além dos Muros da Escola, Ensino Médio

Explorando os espaços do cotidiano para pensar a alimentação

Estudantes do Ensino Médio vão ao supermercado como parte de um estudo aprofundado, proposto na unidade eletiva Comida é Vida

Autoria: Adriano Skoda – Professor da eletiva Comida é Vida e de Paisagem e Cotidiano (Núcleo Básico)

Desde o início da reformulação do Novo Ensino Médio no Colégio Santa Maria, com a implementação dos Itinerários Formativos, as unidades curriculares eletivas se propuseram a complementar a formação dos estudantes em sua dimensão mais ampla, abrangendo tanto experiências pessoais, quanto profissionais e sociais. Desde 2022, a unidade curricular Comida é vida, vinculada à área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, vem realizando práticas e reflexões em torno da alimentação nos seus mais diversos âmbitos, abrindo caminhos para uma reflexão cotidiana sobre o que e como comemos.

Como parte da dinâmica do curso, vivenciar os espaços de consumo, como os supermercados, se tornou um elemento central. Como entender a dinâmica e especificidade de um espaço que nos é tão banal quanto cotidiano? Por que problematizar algo que atende nossas necessidades e está tão imbricado em nosso dia a dia? Como mudar o olhar para este espaço tão “naturalizado” em nossas vidas?

imagem meramente ilustrativa

Essas perguntas foram o ponto de partida para a elaboração de uma sequência didática que iniciou com uma sensibilização a partir de um videorreportagem sobre a história das feiras livres, o desenvolvimento das mercearias e a implementação dos supermercados em contexto de guerra. Estudar este espaço na perspectiva histórica permitiu ampliar a discussão e despertar a atenção ao tipo de trabalho realizado em cada um destes espaços e as especificidades das relações entre vendedores e consumidores.

O passo seguinte da sequência didática nos levou para fora da sala de aula. Atravessamos os muros da escola e seguimos para o atacarejo Assaí, localizado na mesma calçada da escola. A saída para o mercado foi guiada por um roteiro, previamente discutido em sala de aula no qual o olhar estava voltado principalmente para as características do espaço, as estruturas das prateleiras, as roupas dos funcionários, a temperatura do ambiente e a disposição dos produtos nas prateleiras e na loja.

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A movimentação da turma, circulando em pequenos grupos, chamava a atenção. Olhos atentos aos diferentes preços, observando rótulos, conversando com clientes e funcionários. Tudo isso com o intuito de desvendar as intenções por trás da estrutura da loja e aparência das embalagens. O tempo nesse momento parece que voa. Assim, o encontro marcado na praça de alimentação, 10 minutos antes do término da aula, para que pudéssemos nos encontrar para regressar ao espaço escolar em conjunto, permitiu que os estudantes realizassem a atividade com liberdade, autonomia e responsabilidade.

Após a vivência, realizamos uma reflexão em sala de aula, partindo das provocações apresentadas por João Peres e Victor Matioli, no livro Donos do Mercado, publicado pelo O Joio e o Trigo, no qual os autores traçam um histórico dos mercados no Brasil e atualizam o debate em torno desse novo segmento que tem se popularizado, os atacarejos.

Esta dinâmica de aulas permitiu assim um processo complexo de vivência e elaboração do conhecimento, passando tanto por uma experiência sensorial, quanto política e intelectual frente aos desafios de pensar criticamente os ambientes pelos quais circulamos cotidianamente, e produzir conhecimento além de novos olhares para a realidade.

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