Educação em Pauta, Educação Infantil

Falando sobre inclusão

Neste relato, a orientadora Eliane Lima, da Educação Infantil, revela suas experiências com a discriminação até a adolescência, o que fez dela uma educadora com o olhar para o acolhimento e a ética

Autoria: Eliane Lima – Orientadora Pedagógica da Educação Infantil

Penso que para começar a falar sobre inclusão, preciso primeiro me autodescrever. Sou Eliane Lima, tenho 1,75 de altura, 63 quilos, cabelos curtos e grisalhos, olhos castanhos, lábios grossos, pele parda, 50 anos de idade.

Era chamada de “gordinha” na infância, a aluna “baixinha” do Fundamental, a estudante do Ensino Médio “desengonçada” e a universitária “tímida” que não falava e, tampouco, escrevia. Por muito tempo vivi o que as instituições nas décadas 1980, 1990 e 2000 cunhavam em seus espaços educativos; vivi tempos de segregação, de exclusão, outros de integração, mas nunca de inclusão.

Hoje, décadas depois e, por ter encontrado pessoas inspiradoras que acreditavam e acreditam em escolas de convivências diversas, ricas em diferenças, perspectivas e possibilidades, me “trans-formei” (fui formada nessa transformação) em uma professora/orientadora que acredita na escola como um lugar de sujeitos plurais, diversos e que carregam suas singularidades. Um espaço onde se tem o objetivo de acolher e promover o desenvolvimento e a aprendizagem de todos e para todos, respeitando tempos, ritmos e diferenças nas adequações e flexibilizações de materiais e suportes – assegurando, verdadeiramente, o que é de direito.

Escolas como o Colégio Santa Maria estão reescrevendo a concepção do que significa ser um espaço inclusivo, que acolhe sujeitos típicos e atípicos e, de uma maneira laboriosa, estão estudando para aprender a ouvir, compreender e encontrar caminhos para se trabalhar com a multiplicidade de pessoas; olhando, não pela perspectiva da “falta” mas sim, pela lente de uma educação mais humanista, respeitosa, solidária e equânime.

Não pela ótica de diagnósticos e laudos, dos “pré-conceitos” que padronizam e retiram dos sujeitos direitos, deveres e oportunidades. Mas sim, na crença de que a

Educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele.”

(Hannah Arendt)

Assumir uma responsabilidade comprometida com a superação de todas as formas de discriminação, violência e preconceito, uma educação que desenvolva a noção de atenção, escuta, disponibilidade e receptividade ao outro e para com o outro.

Educação que promove uma mudança ética porque envolve receber o outro em gestos que estabelecem vínculos, empatia, respeito e que renuncia a ideia dos padrões, modelos ou formatos para poder pertencer, se enquadrar…

Por fim, não se trata apenas de se aproximar ou de estar junto; significa abrir terreno para o desconhecido, para a dúvida, a procura, a conexão e o desejo de acolher e de transformar.

Abrir, de fato, as portas da escola para a diversidade, e que isso resulte na construção de uma ética das relações, das responsabilidades; uma ética forte o suficiente para transformar os espaços e tempos da escola, os espaços e tempos sociais e, onde se possa viver verdadeiramente o que diz Tom Shakespeare e Romeo Sassaki, o movimento de…. “NADA SOBRE NÓS, SEM NÓS!

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