Núcleo de Tecnologia do CSM reúne professores para entrarem em sala de aula, em um movimento que desperta a busca por novos conhecimentos, a criatividade e a inovação no ensino e na aprendizagem dos estudantes
Autoria: Alessandra Seidenberger – Departamento de Comunicação do Colégio Santa Maria
Imagine um mundo onde a tecnologia não é mais uma barreira, mas sim uma ferramenta poderosa para enriquecer a experiência educacional dos nossos filhos? Parece algo distante ou complexo demais? Não se preocupe, vamos desvendar esse cenário juntos!
De alguns anos para cá, o avanço tecnológico alcançou patamares sem precedentes, a velocidade da informação, das ferramentas e dos recursos digitais aumentou de tal forma que é desafiador acompanhar, mas, ao mesmo tempo, é impossível negar o quanto a tecnologia “viabiliza” a nossa vida. Que o diga a geração Z, que já nasceu nesse contexto e, praticamente, com um smartphone e um tablet à mão.
Diante dessa evolução toda, como não levar para a sala de aula o que a tecnologia dispõe para auxiliar o ensino e a aprendizagem, em todos os níveis? Logo que a pandemia se instalou no mundo, a necessidade de usar todos os recursos tecnológicos disponíveis foi potencializada e, um ponto de virada sem retorno. Naquela ocasião, quem não tinha familiaridade com as telas, programas e aplicativos, teve que dar um jeito.
Três anos mais tarde, parece que os ânimos se acalmaram, mas a todo instante novidades neste mundo virtual aparecem, e é imprescindível a necessidade de conhecê-las e aplicá-las de maneira responsável e adequada. E é crucial que os professores estejam preparados e capacitados para liderar essa jornada.
E o que isso tem a ver com nossas crianças? Tudo! Antes de pensar na sala de aula, precisamos focar nos professores que estão à frente dela. Isso significa investir em formação!
ENTENDA O CAMINHO
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que norteia a educação básica no Brasil, traz a Cultura Digital como uma das competências necessárias à formação integral dos estudantes. Isso significa que alunas e alunos precisam compreender as ferramentas digitais, utilizá-las e criar soluções com tecnologia digital. É nesse contexto que entra a equipe pedagógica, que precisa se apropriar deste conteúdo primeiro, para depois fazer suas turmas colocarem a “mão na massa”.
Desde o começo deste ano, os professores do Colégio Santa Maria embarcaram em uma “formação para as competências digitais”. Essa capacitação é conduzida pelo Núcleo de Educação e Tecnologia da Informação (NETi) do CSM, abrangendo todos os níveis de ensino – da Educação Infantil ao Ensino Médio, incluindo a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Todo o conteúdo é adequado a cada segmento, de acordo com a faixa etária.
O planejamento dos encontros tem como referência o currículo de formação desenvolvido pelo CIEB – Centro de Inovação Para a Educação Brasileira, que é voltado à prática docente. A proposta é capacitar a equipe de professores à utilização de tecnologias para ensino e aprendizagem, e pensar como essas tecnologias impactam a resolução de problemas e criação de soluções nos espaços de aprendizagem (sala de aula, maker, hub etc).
O início deste treinamento foi com uma autoavaliação para identificar o nível de habilidade digital de cada professor (a), o que deu subsídio ao NETi para trabalhar a formação dos professores (as) com foco no aumento do nível de competência digital de cada um.
“O desafio é estimular o desenvolvimento da fluência digital dos professores, de forma que compreendam o digital como habitat natural e se sintam seguros ao utilizarem recursos digitais em suas práticas. Portanto, a formação leva em conta a variação do nível de fluência digital docente e institucional”, explica Aghata Lima, Coordenadora de Tecnologia Educacional do CSM, que está coordenando o trabalho e acompanhando todo o processo com os professores, na teoria e na prática.
Aghata Lima com os professores do Ensino Médio
PRIMEIROS RESULTADOS SÃO INSPIRADORES
Tópicos como cidadania digital, resolução de problemas através do pensamento computacional e tecnologias emergentes, como Realidades Mistas (aumentada e virtual), Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT – Internet of Things), já estão sendo explorados.
A professora Patricia Almeida, do 3º ano do Ensino Fundamental, teve uma experiência interessante com os alunos. “Tivemos uma aula com as crianças no *Hub para que eles estudassem o relevo da cidade de São Paulo. Eles trabalharam com os tablets em 3D. O Quivervision é um programa de realidade aumentada, em que a criança pode observar, além do espaço geográfico, as formas do relevo. No fim, nós íamos falar apenas sobre planalto, mas acabamos abordando outros temas, como o ciclo da água, por exemplo”.
Pergunto à professora que componente curricular ela considera que pode ter mais aplicações em suas aulas com o uso da tecnologia. “Na matemática; através das pistas, as crianças vão buscando resolver os problemas”.
Enquanto responde, Patricia se lembra de outras possibilidades, como os projetos interdisciplinares. “Por meio das imagens de sólidos geométricos, a gente descobriu outras formas de ensinar. Eu posso criar uma planta do colégio, por exemplo, e utilizar o croqui feito pelo próprio aluno, trabalhar as dimensões de altura, de visão vertical e visão oblíqua, o que não é matemática propriamente, mas está integrado às ciências humanas, como a geografia”.
Falando em Matemática, fomos para o 8º ano falar justamente com a professora de Matemática, Carla Afonso, apaixonada por criação e novidades do universo digital. “Eu queria elaborar a proposta de trabalhar com os alunos o pensamento computacional, que está na BNCC; fui atrás da equipe do NETi e eles me auxiliaram muito nisso”, diz.
Professora Carla Afonso e alunos do 8º ano no espaço Hub
“A gente trabalhou com *Micro:Bit, com programação, e eu não conhecia nada disso. O NETi me deu essa formação, de uma maneira prática, com os alunos”. A professora se refere a um projeto interdisciplinar, que envolve matemática, artes, ciências e língua inglesa – o Ações Empreendedoras – onde os alunos tinham que desenvolver o protótipo de um produto que satisfizesse a necessidade da turma no campo educacional. Os trabalhos foram apresentados recentemente e, em breve, estarão aqui no portal.
“Outro projeto de pensamento computacional foi a criação de um *story telling sobre alguns matemáticos. Os alunos fizeram cada ‘personagem’ falar sua autobiografia. A proposta é simples, mas exige programação. Eles têm que programar quando o `bonequinho´ vai andar, quando vai falar, e isso é lógica”, explica Carla.
Veja um dos trabalhos produzidos. É só clicar na bandeirinha!
Produção: Nicole Baladi e Manuela Melo
MUITAS POSSIBILIDADES COM OS PEQUENOS
Com 28 anos de experiência no Santa Maria, Rita Lázaro, que leciona para o 1º ano do Ensino Fundamental, reconhece que após a pandemia, o uso da tecnologia se intensificou. “Nós começamos a perceber a necessidade de estudar, de ir atrás, de participar de cursos e ter uma parceria maior com o NETi”.
A educadora usa recursos multimídia para envolver meninas e meninos e seus pais/mães, criando portfólios interativos que revelam o que acontece em sala de aula. “As crianças falam: coloca as fotos, vamos colocar essa pra minha mãe!…Os pais também filmam e mandam pra mim, e eu mostro na sala o que as crianças fizeram em casa”, conta Rita.
No cotidiano da classe, é frequente o uso de buscadores de pesquisa. “Como as crianças estão na alfabetização, eu ensino a tirarem as dúvidas com relação à gramática, à ortografia e ao vocabulário”.
Todas as turmas do 1º ano estão entrando em ação este mês, lá no espaço Hub. A proposta é aprender a criar apresentações no Canva, uma plataforma de comunicação visual. Essa apresentação vai acontecer na Semana Padre Moreau, evento pedagógico que acontece todo ano no Santa Maria. “Agora no segundo semestre, eles já estão maiores, conseguem digitar e fazer pesquisa, participam mais”, explica a professora.
Professora Rita Lázaro e alunos do 1º ano
Rita Lázaro enfatiza que nesta idade (média de 6 anos) deve haver um limite maior de exposição às telas. “O 1º ano precisa ter outras ferramentas de aprendizagem, mas como o uso da tecnologia está ao nosso redor, temos que usá-las de uma maneira produtiva e adequada. A criança necessita usar o tempo todo da sua criatividade, tem que ter inovação, originalidade, e isso é um desafio para nós, professores no mundo atual”.
“A experiência de um professor com a tecnologia é muito diferente da experiência de uma criança. A criança pode saber usar um dispositivo, mas não tem a habilidade suficiente para aplicar essa tecnologia à aprendizagem dela, nem como ela deve se comportar no mundo virtual. O professor precisa saber dar esse direcionamento. Todos estão aprendendo simultaneamente”, diz Aghata Lima.
ENSINO MÉDIO, UMA OUTRA ABORDAGEM
Professora de Laboratório de Tecnologias Digitais da 2ª série do Ensino Médio, Beth Fantauzzi também utiliza o currículo do CIEB como referência para suas aulas, que têm foco nas ferramentas digitais para comunicação, para informação e para produção de conhecimento.
A educadora auxilia os professores de outras unidades curriculares, dando um suporte internamente. “Alguns colegas trazem essa ideia da tecnologia aplicada ao seu conteúdo, e se utilizam disso; há outros que não têm a mesma familiaridade. Em alguns momentos, fazemos algumas formações internas para criar uniformidade na equipe. Uma delas foi com o objetivo de padronizar o uso do Google Classroom, isto é, nós trabalhamos com a uniformização do ambiente de aulas on-line”, explica.
Professora Beth Fantauzzi
Sobre a contribuição do NETi para a formação de professores, Beth Fantauzzi ressalta que a autoavaliação permite atualizar as equipes com as novas ferramentas e colocar todos “na mesma página” de conhecimento. “O grupo é heterogêneo e a pesquisa (autoavaliação) que o NETi fez demonstrou isso. É importante trazer homogeneidade na atuação em relação à tecnologia e fazer com que os professores utilizem mais as ferramentas disponíveis para auxiliar a aprendizagem e a construção do conhecimento”.
Formação para as competências digitais docentes (CDD) com equipe de professores do Ensino Médio
Com a professora Beth, os alunos estão produzindo o protótipo de um livro interativo, a partir de uma leitura que eles fizeram e das ferramentas que aprenderam a usar. Depois de reunir todas as histórias contadas no livro interativo, todo o material será compilado em um e-Book da turma. “Eles vão usar os elementos de interatividade que eles aprenderam nas histórias”, conclui a educadora.
“Na era tecnológica, mundo físico e virtual caminham paralelamente, não há como dissociar. Cada vez mais surgem inovações, como a Inteligência Artificial Generativa (IA Generativa), e nós temos que acompanhar. Por exemplo, quando estávamos entendendo o que é a IA, surgiu o chat GPT, que de uma hora para outra virou notícia, todo mundo rapidamente se interessou e começou a utilizar para as mais variadas finalidades. Ao mesmo tempo que ela avança, a gente precisa compreender essa tecnologia, criar políticas de uso, ensinar os alunos a aplicarem as ferramentas para a aprendizagem, para construir soluções, e saber respeitar as regras de uma sociedade”. – Aghata Lima
Saiba mais!
Desenvolvido no Reino Unido, o *Micro Bit é um computador de uma única placa, cujo objetivo é ensinar crianças e jovens conceitos básicos de computação e programação.
*Hub – Espaço Flexível para conectar ideias, pessoas e aprendizados
*Storytelling é uma maneira envolvente de contar histórias em contextos de literatura, cinema, publicidade e marketing, com uso de diferentes recursos para prender a atenção do público e fazer com que eles se sintam conectados com o tema abordado.