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História e Aventuras

O uso do jogo de Role Playing Game (RPG) adaptado para o cotidiano escolar

Autoria: Lucas Marchezin – Professor de História do 7º ano

A série Stranger Things, da Netflix, traz diversas referências do universo cultural Geek ou, num linguajar mais antigo, do “universo Nerd”. Entre elas, uma se destaca desde a primeira temporada, o jogo de Role Playing Game, ou simplesmente RPG. Mas o que é esse jogo, afinal? Poderíamos, em uma tradução livre, dizer que se trata de um “jogo de interpretação de papéis”, em que um narrador, denominado “mestre”, conta uma história e os demais jogadores definem as ações de seus personagens. O cenário em que tal história se desenrola pode ser de um universo de fantasia medieval à ficção científica e, para jogá-lo, basta papel, lápis e um conjunto de dados.

É justamente essa plasticidade do jogo de RPG que me levou à ideia de adaptá-lo ao cotidiano escolar. Se é possível jogá-lo em qualquer cenário, por que não jogar em um contexto histórico real, trabalhado em sala de aula e conhecido pelos alunos? Por que não criar uma aventura em que eles pudessem exercitar, ao mesmo tempo, sua criatividade, habilidades de pesquisa e conhecimento histórico? Em 2022, em sua segunda versão, o projeto contou com seis etapas.

Na primeira, os alunos montaram a ficha da personagem indicando, a partir de regras pré-estabelecidas, as características gerais (nome, país de nascimento, idade e gênero), os atributos (força, destreza, inteligências e constituição), os pontos de vida e suas habilidades. Feito isso, na segunda etapa, buscaram realizar uma pesquisa sobre o processo de centralização política do local de nascimento escolhido, e podiam optar entre Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda; assim como, sobre os impactos da Reforma e Contrarreforma das Grandes Navegações.

A escolha desses conteúdos não se deu de maneira aleatória, na medida em que compunham o rol de temas abordados no terceiro bimestre. Por fim, na terceira etapa, construíram a história de vida dessa personagem, articulando os elementos coletados, com as informações sobre o contexto histórico levantados posteriormente.

Com o personagem pronto, ao final da etapa, os alunos se dedicaram a se preparar para a aventura. Em História, procuraram refletir sobre qual seria a posição de suas personagens, todos eles piratas, sobre os principais temas da colonização da América, já que esse seria o cenário da aventura. Qual a posição deles em relação à conquista do continente e ao tratamento dado aos povos originários? E em relação ao sentido mercantil da colonização? Ao exclusivismo colonial? À escravização dos povos africanos? Novamente aqui o objetivo foi aliar um exercício de imaginação ao conhecimento histórico adquirido no decorrer das aulas, já que a posição das personagens deveria ser justificada a partir de elementos históricos. Em uma parceria com Artes, na quinta etapa, buscaram entender os processos de construção gráfica de um personagem, e construíram no ateliê um avatar dele.

Por fim, na sexta e última etapa, participaram de uma aventura de RPG. No Espaço Hub, foram transportados para uma taverna do século XVII, localizada na famosa ilha de Tortuga, a capital da pirataria na Idade Moderna. Lá, tiveram um encontro com René Duguay-Trouin, importante corsário francês, que os desafiou a desvendar um conjunto de enigmas.  Este foi um teste para a aventura seguinte, um ousado ataque a uma esquadra portuguesa que estava partindo da ilha de Fernando de Noronha para o continente africano em busca de comprar homens e mulheres escravizados. Para tanto, a nau principal da esquadra carregava um verdadeiro tesouro que poderia ser saqueado, caso tivessem sucesso em seu ataque. Assim nas duas aulas seguintes, os alunos tiveram que planejar um ataque à esquadra portuguesa, preparar seus navios e cruzar os mares em uma ação ousada. Por meio da imaginação, foram transportados para uma outra época e local, e puderam de forma lúdica experimentar como poderia ser um pirata na Idade Moderna! Que experiência!

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Tags: 7º ano, jogo de interpretação 7 ano, o que é role playing game, role playing game na escola

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