Atividade Física

Jogos Interclasses do Ensino Médio

 Muito além das habilidades motoras e capacidades físicas.

Autoria: Adão Abucham S. Gomes – Professor de Educação Física, Oficina Corpo e Movimento e Laboratório de Esportes

Depois de dois anos dos Jogos Interclasses ficarem suspensos devido à pandemia e eu estar ausente da primeira etapa deste ano por ter contraído a Covid, pude voltar a organizar presencialmente este torneio desportivo. Esta Segunda Etapa foi composta por disputas na modalidade de Voleibol misto e Salto em distância.

Compartilho que estive atento e apreensivo para que não me ocorresse alguma surpresa que pudesse me ausentar desta etapa. Há tempos vinha convivendo com a curiosidade de observar como os alunos se comportariam frente aos desafios de disputar um torneio esportivo, depois de tanto tempo vivendo em isolamento e sem esse tipo de experiência.

Tenho observado, no cotidiano da escola, que aspectos relacionados às capacidades físicas, às habilidades motoras, aos aspectos mentais (ansiedade, atenção, foco, confiança, nervosismo, stress…) e aos afetivo-emocionais (cooperação, colaboração, persistência, resiliência…) foram alterados devido ao isolamento imposto pela pandemia. Esse contexto associado à disputa que é inerente ao torneio, poderia levar a experiências negativas aos envolvidos.

É sempre relevante lembrar que, para além das disputas que envolvem as capacidades físicas, o conhecimento de estratégias e sistemas dos jogos que estão presentes no torneio, os aspectos emocionais e socioafetivos também têm grande relevância; talvez sejam os que mais tenham sido afetados quando estivemos isolados em casa.

A participação nos Jogos Interclasses é uma experiência que pode levar ao exercício da frustração, do estresse, da resiliência, da cooperação e da colaboração, da empatia, do respeito às regras e da alteridade.

Sim, ter disposição de atuar no torneio é se colocar diante da frustração, uma vez que onze turmas entram na disputa e só uma será campeã; é também exercitar a resiliência, no sentido desta ser a capacidade de se recobrar ou se adaptar à má sorte ou às mudanças, visto que é possível perder um jogo, se recuperar e prosseguir na disputa.

Outros aspectos significativos no torneio

Como os jogos são coletivos, mesmo o Salto em distância (prova normalmente individual que transformamos em coletiva), torna inerente a ação de trabalhar junto com os outros, de somar esforço para um fim; a empatia é necessária pois, apesar de muitos desejarem jogar, a regra do jogo impõe limites à participação, assim, é preciso escalar uma equipe que possa atuar bem e pensar em substituições: exercício difícil, mas inevitável dentro de uma equipe.

A alteridade também é levada em conta no sentido de que o torneio só acontece porque, embora as equipes estejam em disputa, é essencial a “presença” de todas, ou seja, há uma relação de interdependência entre os competidores; o respeito às regras, pois elas são balizadoras das condutas coletivas; através das normas se identifica, por exemplo, o que é uma bola dentro ou fora, o que é ponto conquistado ou cedido, a vitória ou a derrota; desta forma, acatar as regras é imprescindível.

Para refletir

Um torneio desportivo nunca fica isento de tensões, de questionamentos às marcações dos árbitros, de certo nível de estresse, de lances duvidosos, de esforços extenuantes, mas, o que pude observar nesta segunda Etapa foi um bom “clima” entre alunas e alunos das diferentes equipes. Alguns casos isolados que fugiram do clima geral, foram analisados e discutidos nas aulas após o torneio, e encaminhamentos pedagógicos foram feitos.

Muitas conversas ocorreram em todas as turmas do Ensino Médio e os assuntos mais abordados dizem respeito ao modo como alunas e alunos se relacionam durante os jogos. As habilidades motoras, as capacidades físicas e as estratégias também foram mencionadas e analisadas, mas o respeito ao outro, às regras, as ações cooperativas, a integração das equipes, a união em torno de uma meta comum, a empatia e a alteridade foram o foco das conversas.

Fazer parte da organização dos Jogos Interclasses, participar e auxiliar as turmas no preparo para a disputa do torneio, observar os jogos e constatar a grande mobilização dos estudantes; conversar e fazer análises como as que ocorreram com as turmas, me faz acreditar que o Jogo, o Esporte e o Torneio Desportivo são ferramentas importantes no processo de ressocialização que estamos vivendo e que experiências como essas deveriam estar cada vez mais presentes no ambiente escolar.

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Tags: Educação Física, ensino médio, jogos, torneios

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