Educação de Jovens e Adultos, Mundo da Leitura

Literatura, Cinema e visita ilustre na EJA

Evento literário da Educação de Jovens e Adultos do Santa Maria homenageia a escritora Carolina Maria de Jesus com a exibição de documentários e a presença da filha da autora

Autoria: Alessandra Seidenberger – Departamento de Comunicação do Colégio Santa Maria

Uma brasileira pobre, negra, moradora da favela do Canindé, em São Paulo, e “mãe-solo” que passou fome com os três filhos. Situação nada incomum na sociedade brasileira, mas a personagem desta matéria extrapolou as barreiras da vida, venceu preconceitos e a pobreza, e se tornou uma das primeiras escritoras negras publicadas no Brasil: Carolina Maria de Jesus, autora do livro Quarto de Despejo: diário de uma favelada, que vendeu 13 milhões de cópias e foi traduzido em 14 idiomas.

Publicado em 1960, o livro desta mineira nascida na cidade de Sacramento, retrata a luta da autora pela sobrevivência, sua batalha para sustentar os filhos como catadora de papel, e o início de sua trajetória na literatura. Ela sequer tinha onde escrever nem condições de comprar cadernos. Carolina Maria de Jesus vendia parte dos papeis que encontrava no lixo, e outra parte guardava para poder escrever.

O mais incrível de toda essa história é como sua baixa escolaridade (Carolina estudou apenas dois anos, formalmente) não limitou o interesse dela por conhecimento. Carolina lia compulsivamente. Ela parou de estudar na 2ª série, atual 3º ano do Ensino Fundamental.

É por conta dessa biografia tão inspiradora que a escritora foi estudada e homenageada pelos estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em uma semana de exibição de vídeos, documentários e a presença da professora Vera Eunice, filha de Carolina, que mantém vivas a memória e a obra da autora.

“Essa turma se engajou muito na leitura de Quarto de Despejo. Há uma identificação dos alunos com a história de uma mulher que abandonou os estudos e teve que abrir mão de muitos sonhos e projetos, e conseguiu resgatar esses sonhos. O fato de se tratar de uma escritora negra também faz com que eles se identifiquem”, explica Livia Freitas, professora de História e coordenadora da 8ª série da EJA.

CINEBIBLIO

A ambientação com direito à pipoca e a projeção dos vídeos sobre a vida e a obra de Carolina Maria de Jesus ficaram por conta da equipe da Biblioteca Padre Moreau. O projeto Cinebiblio complementa e enriquece o repertório dos alunos, de todos os segmentos.

Aperte o play!

Mãe de quatro filhos, Leide Almeida da Silva, é aluna da 8ª série da EJA. “Achei o livro interessante porque mostra a realidade sofrida da vida. Muitas pessoas passam pela dificuldade de não ter comida para os filhos. Eu já passei por isso”, diz a estudante que nasceu em Sergipe e veio para São Paulo com 10 anos de idade.

“Eu me apeguei demais ao livro. Apesar de ser muito triste, é uma realidade que a gente vê todos os dias. A Carolina se expressava muito bem, e acho que a gente acaba olhando para essas questões de uma forma mais humana, menos individualista”, conclui Ana Beatriz Felício, de 19 anos. A aluna tinha interrompido os estudos aos 13 anos de idade.

VERA EUNICE, A FILHA

Aos 71 anos de idade, Vera Eunice, a caçula de Carolina Maria de Jesus (os irmãos são falecidos), foi convidada para fechar a semana do evento com chave de ouro e muita emoção.

Maria Cecília Ferraiol, diretora da EJA, ao lado da neta de Carolina Maria de Jesus

Professora aposentada da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, Vera fala com a mesma simplicidade de sua mãe, que deixou para os filhos um legado de amor pela educação. Com o auditório lotado, a educadora contou “causos” de sua história com a mãe, que fez dela uma brasileira forte.

“A minha mãe valorizava demais o estudo. Quando tinha enchente na favela e a água subia até o teto, tinha um barco que vinha buscar as crianças pra levar para a escola. Quando o barco não vinha, minha mãe pegava roupa pra troca, nadava e levava os meus irmãos”, contou Vera, que nessa época tinha apenas quatro anos de idade e ficava sentada em cima do telhado enquanto Carolina seguia com os outros filhos até a escola.

Este é o exemplo de uma vida dedicada aos filhos e à literatura. Que as memórias desta brasileira, que não fugiu à luta, seja uma âncora para as gerações futuras.

Saiba Mais

O último livro de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), “O Escravo“, foi publicado de forma póstuma em dezembro de 2023. O enredo trata de uma história de amor e desilusão entre dois jovens de diferentes classes sociais.

Quarto de Despejo: diário de uma favelada foi o livro de maior repercussão da autora, que publicou também Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada (1961), Pedaços da fome (1963), Provérbios (1965), entre outras obras editadas após a sua morte.

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