Qual o papel das professoras e das crianças quando o desentendimento acontece entre os pequenos? Qual o “segredo” para que a relação de amizade e empatia permaneça?
Autoria: Marcela Monteiro – Professora do Jardim II
“O mais importante em uma comunicação é ouvir o que não está sendo dito.”
Peter Drucker
Antes das crianças ingressarem na escola, é comum que elas convivam apenas com seus familiares, um círculo pequeno de pessoas conhecidas, e que por vezes, realizam seus desejos, ora para contentá-las, ora para evitar problemas.
Sendo assim, ao entrarem no ambiente escolar, conhecerem e compartilharem espaços, brinquedos e atenção, os conflitos começam a acontecer, afinal, é nesse novo território afetivo que passam a compreender as necessidades de seus pares, sendo estimuladas a dividirem e a entender que não é sempre que conseguem o que desejam.
Nesse momento, é comum ouvirmos relatos de crianças contando que o amigo não emprestou o brinquedo, que a amiga não deixou sentar na cadeira que ela gostaria, ou que os colegas da turma não quiseram brincar da brincadeira que sugeriu em determinado momento. Mas, como acontecem as mediações desses conflitos no contexto escolar? Qual a importância deles para a vida das crianças?
Papel da professora e de cada criança
Precisamos entender que em um conflito sempre existe mais de uma pessoa, portanto, a professora é responsável em auxiliar as mediações e deverá ouvir todos os envolvidos na história, para que juntos compreendam os fatos e consigam expressar o que sentiram no momento do desentendimento (estranhamento).
Durante a mediação, não existe lado certo ou lado errado, existe um fato ou atitude que desagradou as crianças, e elas precisam de ajuda para explicar, uma à outra, o que não gostaram, usando palavras e expressões faciais para que o outro entenda.
Durante a conversa, a mediação da professora é fazer perguntas nas quais cada criança compreenda o que sentiu e como o outro também está lidando com a situação. Perguntas como: “Você contou para o seu amigo que não gostou do que ele fez?”, “Olhe para o rosto do seu amigo, você consegue perceber que isso o deixou chateado?”, “O que você acha que pode fazer para resolver esse problema?”, são exemplos de diálogos que promovem a reflexão das crianças durante a resolução do conflito.]
Incentivar a criança a falar e a demonstrar fisicamente com expressões faciais seus sentimentos fará com que ela desenvolva empatia pelo próximo e, ao se deparar com outra situação parecida, tenha repertório para tentar solucionar o problema com autonomia.
Piaget diz que…
“Ao vivenciar conflitos ocorre um desequilíbrio interno no qual a criança começará a buscar uma nova ordem, permitindo que esse ser reflita sobre maneiras de estabelecer reciprocidade, entendendo seus sentimentos e criando estratégias de maneira cooperativa para se desenvolver, afinal, é através desses conflitos que o processo de autorregulação é desencadeado”.
Nessas situações também é muito comum que a professora não dê a resposta do que deve ser feito para o problema ser solucionado. Ela ouve as ideias das crianças, que usam estratégias e conhecimentos prévios para encontrar uma solução. Se a criança ainda for pequena, será também responsabilidade desse mediador oferecer algumas ideias de resolução para que ela decida qual será a melhor maneira de resolver o desentendimento ou atrito, acolhendo e respeitando a escolha de cada uma e ajudando a perceber se foi ou não uma boa solução, quantas vezes forem necessárias.
Refletindo
Os conflitos fazem parte da jornada de crescimento, amadurecimento, compreensão das frustrações e desenvolvimento da habilidade de ser resiliente, afinal é natural do ser humano fazer questionamentos, não concordar com algumas atitudes ou querer que suas ideias e vontades prevaleçam. Portanto, devemos entender que esses conflitos aparecerão no dia a dia, e que as mediações serão feitas para esse indivíduo se desenvolver de maneira plena e respeitosa consigo mesmo, com o próximo, e competente para viver num mundo plural, diverso e de compreensão do outro.