Ensino Médio

Novo Ensino Médio

Depois de três anos de implantação da reforma da última etapa da educação básica no Santa Maria, nossa experiência mostra que tivemos avanços; veja também nesta reportagem o posicionamento do Colégio após as últimas decisões do Ministério da Educação

Autoria: Alessandra Seidenberger – Departamento de Comunicação do Colégio Santa Maria

Há três anos o Novo Ensino Médio era implantado no Colégio Santa Maria, dois anos antes do prazo estabelecido pelo governo Temer. De forma escalonada, a reforma começou com a 1ª série em 2020 – ano do início da pandemia – e concluiu a transição no ano passado. Atualmente o segmento conta com 378 estudantes em 11 classes. Tivemos em 2022 a formatura da primeira turma que passou pelas três séries dentro do novo formato.

No primeiro ano da implantação, receber estudantes que estavam mudando de ciclo, com uma nova carga horária de 1400 horas/ano e uma metodologia completamente diferente e desafiadora, exigiu da nossa equipe pedagógica uma adaptação sem precedentes. Da noite para o dia, literalmente, foi  necessário  transferir as aulas para o ambiente remoto. Toda comunidade escolar sentiu o peso do desafio.

Muito já foi dito em relação à adaptação às aulas on-line, ao confinamento e suas consequências, como problemas emocionais que afetaram substancialmente a rotina dos jovens…Depois de toda essa avalanche que a pandemia causou, felizmente chegamos até aqui com saldo positivo e continuamos em processo de construção. Estamos todos caminhando juntos, crescendo e nos desenvolvendo.

“Eu pergunto para eles: está cansativo? Tem alguma coisa que você não está gostando, está achando difícil?”, diz Silvio Freire, diretor do Ensino Médio, que aproveita para ouvir as (os) estudantes quando chegam até ele para falar sobre qualquer assunto. “Nós percebemos que a alta carga horária é uma questão para os alunos, mas eles próprios sinalizam que é possível dar conta, ou seja, eles conseguem”, conclui Silvio.

Um segundo ponto importante da mudança é que, além do Núcleo Básico, que contempla a formação geral do aluno, ele tem a possibilidade de escolha das áreas do conhecimento para se aprofundar (Linguagens e suas tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas ou Ciências da Natureza/Matemática e suas tecnologias), e unidades curriculares eletivas, como Oficina de Eletrônica, Bioética, Futsal, Língua Francesa, Clube de Voleibol, Libras, entre outras 24 opções para cursar apenas três.

“Desta forma, o currículo está mais direcionado aos interesses dos estudantes e às complexidades do mundo do trabalho e da vida em sociedade, ao invés de servir exclusivamente aos processos seletivos (vestibulares) do Ensino Superior”, explica Silvio Freire.

Por falar em Vestibular, preocupação recorrente das famílias e das (dos) estudantes, para que não ficasse nenhuma lacuna no conteúdo do currículo básico (60% da carga horária), uma das adequações feitas no planejamento do Novo Ensino Médio para a 3ª série foi o Módulo Suplementar, que vai além do que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) exige para os principais exames externos do país.

A hora da escolha

O Santa Maria faz uma apresentação do novo currículo para os estudantes, em cinco etapas. São reuniões para famílias e estudantes, que começam quando eles ainda estão no 9º ano, para quem já é aluno do CSM, e para alunos novos também. Além disso, os professores gravam vídeos expositivos de cada curso, que ficam disponíveis no site da escola.

Ao iniciar a nova série, seja 1ª, 2ª ou 3ª, a (o) aluna (o) não pode mudar de itinerário nem de unidades eletivas no ano vigente. Por essa razão, a escolha deve ser muito bem “estudada” a partir das informações e das dinâmicas que o Colégio oferece.

“Nós chegamos a ter mais de 180 pedidos para alteração, em 2020 e, na ocasião, conseguimos atender à maioria, no entanto, foi se tornando inviável essa dinâmica; junto com o direito que o Novo Ensino Médio deu de escolha está a responsabilidade de participar dos cinco processos”, diz Silvio Freire. “Desde a 1ª série é importante a (o) estudante ter a clareza na hora de optar por uma área porque se ela (ele) só definir na 3ª série a carreira que vai querer seguir, ela (ele) pode ter feito itinerários que não estão alinhados à sua escolha”, alerta.

Rotina nova exige adaptação

Ao conversar com famílias, estudantes e ex-alunos, temos a percepção de que todo o esforço está produzindo resultados. Ficar mais tempo na escola, escolher uma área para se aprofundar, participar de aulas voltadas a habilidades e competências, almoçar no colégio, voltar para casa no fim da tarde…Elas/eles se cansam, é claro, mas aos poucos estão aprendendo a se planejar e a administrar o tempo.

Antes da reforma, a (o) estudante da 3ª série, por exemplo, tinha uma carga horária menor, para ficar com a tarde livre para o cursinho pré-vestibular. Com o Novo Ensino Médio, houve uma inversão. Além das aulas terem mais tempo (75 minutos), a 1ª série tem 26 horas/aula por semana, a 2ª, 28 horas/aula e a 3ª série, 34. Há pausas de cinco minutos a cada troca de aula, um intervalo de 20 minutos e uma hora para almoçar.

Mesmo com as pausas, as primeiras turmas de 2020 sentiram bastante a mudança e tiveram que se adaptar. As classes da 2ª e da 3ª série deste ano já estão habituadas, sobretudo porque já vieram da retomada ao presencial, que colocou em ordem a rotina de estudantes, educadores e das famílias.

“Dentro das metodologias aplicadas, nós temos a compreensão de que não dá para ficar solicitando trabalho para a (o) aluna (o) fazer em casa, reunião de grupo para fazer fora, atividades, tarefas etc. Tudo é concentrado dentro da carga horária”, explica Adriana Freitas, Orientadora Pedagógica da 3ª série e da área de Ciências Humanas. “As metodologias são diversificadas, isto é, as aulas não são somente expositivas; dentro dos itinerários de área tem aula no laboratório, no ginásio, em sala, no pátio, então eu vejo que esse ano está tudo muito tranquilo em relação ao aumento da carga horária por conta dessa diversificação de atividades e espaços”, conclui.

Ana Júlia R. Diniz, aluna da 3ª série, sente um pouco o aumento do número de aulas, mas está dando conta. Ela chegou em 2021 no Santa Maria, depois de passar pelo processo seletivo do CSM para alunos da rede pública que concluem o Ensino Fundamental. Não por acaso, a estudante precisou passar por muitas adaptações. Ela encarou a troca de escola, de contexto social, de etapa escolar, tudo isso com o agravante da pandemia, que em 2021 ainda exigia aulas remotas.

A aluna pretende cursar Medicina, por isso optou pelo itinerário de Ciências da Natureza desde o ano passado. “Na 1ª série eu escolhi Ciências Humanas porque tenho mais dificuldade nessa área, e naquele momento me ajudou bastante. Eu gostei muito dos dois primeiros anos; a 3ª série está puxada porque a aula termina às 17h35 e a cobrança é maior”, conta Ana Júlia, que aproveita o tempo que sobra para rever conteúdo.

André Hanzel, da 2ª série, veio de outra instituição privada, onde ele estudou desde pequeno até o 9º ano. Acostumado com os amigos de muitos anos, André não queria mudar de colégio de forma alguma, achou que seria conturbada a mudança, mas, segundo ele, foi menos turbulenta do que ele imaginava.

Quanto ao período integral e aos conteúdos, André estranhou mais no início. “Acho que foi mais complicado porque eu não estava acostumado a ficar tantos dias até tarde na escola, mas com o tempo a gente vai acostumando e é bom porque como é mais tempo de aula, não temos tanta tarefa para levar para casa e sobra um tempinho no fim da tarde para fazer o que precisa ser feito”, explica o aluno, que este ano escolheu o itinerário de Ciências da Natureza e as eletivas Clube de Astronomia, Libras e Inovação e Criatividade.

Gabriela Azevedo, mãe do André, mora em um bairro com muita oferta de escolas particulares. “Eu não queria nenhuma dessas escolas; escolhi a dedo o Santa Maria. Quando o André terminou o 9º ano, eu queria uma instituição mais interessante”, diz a psicóloga, que atende adolescentes em seu consultório. “Os relatos dos alunos do Santa Maria me mostravam uma escola que prepara muito bem academicamente; eles traziam uma visão de mundo muito única também. Eu via adolescentes com pensamento crítico, com capacidade de resolução de problemas e uma consciência social única; são adolescentes que se interessam por debates, por notícias, por cinema, então quando meu filho foi para o Ensino Médio, eu vi que era o momento de mudar para o Santa Maria e de expandir o olhar dele para o mundo”, conclui Gabriela.

Experiência de quem fez o Ensino Médio inteiro no novo formato

Anny Rodrigues é uma das ex-alunas que concluíram a 3ª série no ano passado. Ela está cursando Física Médica na USP de Ribeirão Preto, mas passou também em outras quatro universidades públicas, incluindo a USP da capital. A estudante fez a opção pelo interior do Estado por se sentir mais segura, já que o curso aqui em São Paulo seria no período noturno.

A mudança para o Ensino Médio inicialmente foi um choque para a estudante, que sempre estudou no Santa Maria, mas o processo de aumento gradativo da carga horária permitiu que ela se habituasse aos poucos. “A escolha dos itinerários e das eletivas fazia com que a gente de fato aproveitasse a aula e não ficasse só preocupada com as provas. Também porque a gente estava estudando o que tinha escolhido e o que mais gostava”, relata.

“Eu tinha aula de Cozinha Metabólica (eletiva), por exemplo, então a gente cozinhava e estudava os processos químicos e metabólicos presentes na comida, e a nota era resultado do relatório feito a partir do nosso experimento”, explica Anny, que gostou muito da experiência das aulas práticas e reconhece que o Módulo Suplementar trouxe resultados para ela nos processos seletivos das universidades. “Ali era o momento de a gente revisar tudo desde o início, às vezes puxando até para o Fundamental; eu sabia que eu precisava prestar atenção porque ia ser útil para o Vestibular”, conclui.

Davi Nagai Matias é mais um ex-aluno que foi bem-sucedido no Vestibular ano passado. Ele passou em Mecatrônica, na UNESP de Guaratinguetá, e só não se matriculou porque ele quer tentar a USP e ficar perto da família, na capital. O aluno também passou por todo o processo de adaptação e de aulas on-line na 1ª série, e aproveitou ao máximo a oferta de cursos do Novo Ensino Médio.

“Enquanto eu estava fazendo a prova da UNESP, na parte de Física, por exemplo, eu conseguia ver tudo o que o professor Rafael Correa tinha passado pra gente no Módulo Suplementar; estava tudo tão exemplificado na minha cabeça, que eu conseguia calcular tudo sem precisar de lápis e papel”, conta Davi.

Saiba mais!

  • O Novo Ensino Médio do CSM conta também com os Projetos de Protagonismo Estudantil (PPEs), que são pensados e organizados pelos próprios alunos e alunas. Durante o tempo reservado para que os estudantes se reúnam, aqueles que optam por não fazer parte de algum projeto, aproveitam para estudar/revisar conteúdo na sala de aula.
  • Os cursos de Libras e de Futsal resultaram de uma demanda dos estudantes. A direção acolheu a sugestão e contratou professores especialistas para as aulas, que fazem parte do currículo das eletivas.
  • Em 2021, o curso Projeto de Vida entrou para a grade do currículo básico da 1ª série. A equipe pedagógica considerou que tornar obrigatória a unidade curricular pode favorecer o amadurecimento da (do) aluna (o) para as escolhas que ela ou ele terá que fazer nos anos seguintes.

Revogar ou revisar o Novo Ensino Médio?

Posicionamento do CSM frente às últimas notícias divulgadas pela imprensa

A reforma do Ensino Médio foi determinada por uma lei assinada, em fevereiro de 2017. Já o cronograma foi definido em uma portaria, assinada em 13 de julho de 2021 que previa três fases:

  • 2022: implantação na 1º série do ensino médio de todas as escolas;
  • 2023: implantação também na 2º série do ensino médio;
  • 2024: implantação na 3º série, abarcando todo o ensino médio. A partir daí, o Enem que é o principal exame de acesso ao ensino superior, seria adaptado ao novo modelo do E.M.

Atualmente, as redes de ensino, principalmente públicas, têm enfrentado dificuldades como falta de estrutura e de professores suficientes para dar conta da ampliação de novos saberes e para organizar esse amplo leque de possibilidades curriculares.

Diante disso, o ministro da Educação anunciou a suspensão por 90 dias da implementação da reforma do ensino médio e, consequentemente, as mudanças do Enem. Portanto, a suspensão adia apenas o cronograma estabelecido em 2021, não revogando a reforma do Ensino Médio.

Para os estudantes da 3ª série nada muda, pois os nossos cursos e a preparação desenvolvida pelo CSM seguem como planejado.  Para a futura 3ª série de 2024 (atual 2ª série) o projeto de modificação do exame do Enem foi suspenso e, portanto, seguirá com as mesmas características.

O Ensino Médio implantado e desenvolvido pelo CSM apresenta um formato e uma estrutura flexível, que permite uma adequação ágil a qualquer revisão governamental. Continuamos acompanhando as discussões e as possíveis revisões, mantendo os estudantes e seus responsáveis informados.

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