Educação em Pauta

O excessivo uso das telas de computador e de smartphones te causa desconforto?

Neste artigo, o professor Paulo Andrade de Moraes, de Geografia, traz uma ampla reflexão sobre o descontrole do uso de celulares e da internet, por todo o mundo, tema debatido no projeto Origens, Escolhas e Possibilidades do Jovem Contemporâneo, do 9º ano

Autoria: Paulo Roberto Andrade de Moraes – Professor de Geografia do 9º ano

Como podemos atrapalhar nossos planos?

Origens, escolhas e possibilidades do jovem contemporâneo é o projeto do 9º ano do Colégio Santa Maria, que envolve todas as unidades curriculares (disciplinas). No decorrer do ano letivo, desenvolvemos as seguintes etapas:

  • A importância das suas escolhas para a construção do seu projeto de vida;
  • Suas decisões e os impactos na família e na comunidade;
  • O impacto das suas escolhas na sociedade e no mundo;
  • Expectativas e consequências avaliando o seu projeto de vida.

Trata-se de um processo longo, em que auxiliamos os nossos estudantes em reflexões e escolhas que podem determinar seus objetivos acadêmicos e profissionais. Uma das premissas desse projeto é desenvolver a disciplina nas etapas estabelecidas, pois é uma atividade que culmina no último bimestre do ano.

Esta disciplina, no entanto, pode esbarrar em um “mal” que acomete boa parte da população mundial atualmente, e encontra nas crianças e adolescentes um grande alvo. Trata-se do uso exagerado de telas!

Com a disseminação dos smartphones no final da década de 2000, o celular deixou de ser um mero equipamento para ligações telefônicas, passando a ser um verdadeiro computador nas mãos. O acesso à internet, o surgimento das redes sociais e dos jogos online trouxeram para a palma das mãos um verdadeiro mundo de opções de entretenimento que facilmente seduziram os adultos, e, sobretudo, os jovens.

Consequências

“A dose que faz o veneno”, famosa frase atribuída a Paracelso, médico do século XVI – considerado o pai da toxicologia – é atemporal, pois aplica-se a diversas situações da atualidade, como o excesso de tempo em frente às telas.

O uso exagerado de telas por crianças e adolescentes começou a gerar inúmeros problemas mundo afora, principalmente no que se refere à socialização e no rendimento escolar. Países europeus como França, Holanda e Finlândia, além da cidade do Rio de Janeiro, já criaram legislações que controlam ou proíbem o uso de celulares e tablets nas escolas, dada a gravidade da situação.

Muitas crianças e, até adultos, ficam irritados e ansiosos quando não estão com seus aparelhos. Essa “síndrome” já recebeu um nome específico: Nomofobia, termo que surgiu na Inglaterra, a partir da expressão “no mobile phobia”, que significa a fobia de ficar sem o telefone celular. É o desconforto ou a angústia causada pelo medo de ficar incomunicável ou pela impossibilidade de comunicação por intermédio do telefone celular, computador ou pela desconexão da internet (off-line).

Não estamos falando em banir os celulares, até porque isso é impossível nos dias de hoje, mas há muitas formas de usá-los. O uso “normal” é aquele que permite que se tire proveito de toda a tecnologia para crescimento pessoal, profissional e relacionamentos sociais, entre outras coisas. Já a dependência patológica acompanha um prejuízo à saúde, seja física, mental ou social. A patológica também pode revelar quando pessoas que ficam sem seu “objeto” de dependência, no caso, o telefone celular e/ou sem conexão com a internet, acabam apresentando sintomas e alterações comportamentais/emocionais. A ansiedade é o sintoma mais frequente observado nessas circunstâncias, e está relacionado à impossibilidade de contato imediato.

Realmente não é uma tarefa fácil renunciar ao uso desses equipamentos, ainda mais em um panorama em que muitos estudiosos nos classificam como uma geração MMM (multimídia, multiconectados e multitarefas). Com tantos estímulos simultâneos, a capacidade de concentração das pessoas diminuiu muito, além da falta de foco comprometer a qualidade das “entregas”.

Esse cenário ocorre tanto no mundo corporativo quanto no ambiente escolar – momento de descobertas e formação da personalidade. Os excessos de jogos e redes sociais ocupam cada vez mais o tempo dos estudantes, aliados a outros compromissos, como lições de casa, atividades esportivas e extracurriculares que preenchem o tempo deles, mesmo que o dia continue com as 24h horas de sempre. Dificilmente, os jovens deixarão algumas dessas atividades de lado. Algo será sacrificado: as horas de sono.

A longo prazo, a privação crônica do sono poderá trazer consequências sérias para a qualidade de vida dos adolescentes, como obesidade, depressão, diabetes, ansiedade, cansaço durante o dia, déficit cognitivo e de atenção, entre outros.

As telas possuem grande responsabilidade na má qualidade do sono se usadas a noite, pois a luz azul emanada por elas “engana” nosso organismo fazendo-o acreditar que ainda é dia, alterando o *ritmo circadiano.

Ações dentro da escola

Sabendo desse quadro, iniciamos nas primeiras semanas de aula uma sensibilização sobre como essas distrações podem atrapalhar tanto o rendimento escolar como os projetos que os alunos desejam realizar. Em um teste aplicado, retirado de um dos livros que serviu como referência bibliográfica para esse artigo, tivemos o seguinte cenário em relação aos sintomas nomofóbicos dos alunos no 9º ano:

• 8% dos alunos se declaram sem sintomas;
• 68% se declararam com sintomas leves;
• 22% se declararam com sintomas moderados;
• 2% com sintomas graves.

Ressaltamos que não se trata de um diagnóstico, e sim, uma pesquisa para identificar se eles se encontravam nas descrições de cada sintoma. Se necessário, acenderemos o “sinal de alerta” para que façam eventuais alterações de rotas. Foi interessante as análises que fizeram em relação aos sintomas, nos quais muitos se reconheceram.

O objetivo desta atividade foi sensibilizar alunas e alunos sobre as diversas formas de distração em nosso cotidiano, tão comuns na rotina de cada indivíduo. Não percebemos que essa distração pode roubar horas importantes do nosso dia, assim como prejudicar a nossa saúde e a aprendizagem.

A palavra de ordem é equilíbrio para todas as demandas que temos, tanto as obrigatórias quanto as de lazer. Dessa forma, teremos um ano letivo mais proveitoso, e nossos projetos bem executados.

Referências bibliográficas:

KING, Anna Lucia S; NARDI, Antonio A. Cuidado com a Nomofobia. Atheneu.
LOPES, Maria Cecília; ALVES, Rosana Cardoso; NUMES, Magda L. Sono dos Adolescentes. Atheneu.

SAIBA MAIS

*O ritmo Circadiano refere-se a um ciclo biológico de aproximadamente 24 horas que ocorre em muitos organismos vivos, incluindo humanos. Esse ritmo regula uma variedade de processos fisiológicos e comportamentais, como o ciclo sono-vigília, a temperatura corporal, a produção de hormônios e o metabolismo.

O ciclo sono-vigília é um dos aspectos mais conhecidos do ritmo circadiano. Ele influencia quando nos sentimos naturalmente alertas e acordados, e quando nos sentimos sonolentos e prontos para dormir. Esses ritmos são parcialmente controlados por sinais externos, como a luz solar, que ajudam a sincronizar o ritmo circadiano com o ciclo de 24 horas do dia.

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