Autoria: Eliane Lima – Orientadora Pedagógica da Educação Infantil e Gisele Coli Nahime – Professora do Pré
“Quanto mais a criança cresce, mais elaborada é a construção do seu brinquedo. Há mais detalhamento material, mais experimentos acerca da natureza, mais riqueza experimental inundando seu corpo, seus órgãos. Existe uma força vital extraída da matéria, da pedra, da madeira, do cascalho, do metal, da fibra, condutores de vitalidade.”
(*Gandhy Piorski)
Quando trazemos para a conversa o termo “desemparedamento”, falamos de liberdade, de encontro e de contato com a natureza; trazemos o valor da interação da criança com o meio natural, uma relação respeitosa, contemplativa, de cuidado, e que promove aprendizagem. Falamos de experiências da terra, da água, do ar, do fogo, das possibilidades de, nesse grande quintal que é o Colégio Santa Maria, a criança levantar teorias provisórias sobre o mundo e desenvolver conceitos, por exemplo, de onde vem a água da nascente?
De que maneira o outono altera a paisagem do bosque ou o quanto a temperatura do verão pode ser usada como fonte de calor num “forno” feito de caixa de papelão revestida de papel alumínio para derreter caldas e assar alimentos (tecnologia e ciência)?
Validamos a constituição do “sujeito-criança” que não se vê desconectado da “mãe- natureza”, ao contrário, alguém que a reverencia e a protege. Trazemos uma criança que ao brincar de pescar “peixes-folhas” com “varas-varetos” num bosque encantador, é alguém que desenvolve a imaginação, a função simbólica e exercita papeis sociais. Como diz *Vygotsky:
“Ao brincar, a criança assume papeis e aceita as regras próprias da brincadeira, executando, imaginariamente, tarefas para as quais ainda não se sente apta e preparada, pois são experiências que a ajuda a recriar a vida humana.”
Trata-se de uma “criança-estudante” que chega nas séries seguintes com excelência acadêmica pois, para além da criatividade, inventividade, da autoconfiança e autoestima, é um ser humano que reconhece como uma pessoa que ocupa espaços democráticos, inclusivos, críticos, políticos, sociais e de pertencimento a mundo integral e natural.
Por isso nós, da Educação Infantil do Santa Maria, acreditamos que a sala de aula é uma referência, uma sala para acolhida, para organizar a jornada do dia, um espaço de sistematização de registros e para os dias de chuva, já que nos outros dias os espaços de aprendizagem são a “corda do tarzan”, a praça da amizade, o bosque, o parque, as trilhas, os gramados…São territórios de exploração, de investigação, interação e produção de conhecimento compartilhado.
Nós defendemos, portanto, uma infância vivida na exploração, na liberdade e na certeza de que ambientes ricos em natureza ajudam na promoção da saúde física e mental e no desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais, motoras e emocionais.
Saiba Mais:
Vygotsky foi um psicólogo russo que viveu no início do século XX e defendeu que a aprendizagem não pode ser dissociada do contexto histórico, social e cultural em que o indivíduo está inserido. Sua teoria teve um impacto significativo no campo da psicologia do desenvolvimento e da educação.
Nascido no Maranhão em 1971, Gandhi Piorski é artista plástico, teólogo e pesquisador nas áreas de cultura, produção simbólica, antropologia do imaginário e filosofias da imaginação. Piorski é autor do livro “Brinquedos do Chão, a Natureza, o Imaginário e o Brincar”, que inaugurou uma série que explora a imaginação do brincar e sua intimidade com a terra, a água, o fogo e o ar.
