É consenso entre nós, educadoras e educadores, que o ensino presencial é a forma mais adequada para o ensino-aprendizagem acontecer.
Autoria: Valeria Conte, professora de História do Ensino Médio do Colégio Santa Maria.
É consenso entre nós, educadoras e educadores, que o ensino presencial é a forma mais adequada para o ensino-aprendizagem acontecer. Diante dos desafios impostos pela pandemia e objetivando diminuir a circulação do vírus e preservar a vida, optou-se por manter a maior parte dos alunos e alunas em casa. Nunca foi uma decisão fácil ou unânime e, frente a ela, precisamos nos adaptar e reorganizar.
Para as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, o passo fundamental foi o trabalho em equipe e a solidariedade entre os/as pares. As trocas sobre estratégias e metodologias diversas tornaram-se mais constantes, tendo em vista o ineditismo do momento. Como trabalhar documentos em aula sem o acompanhamento direto da/o professor/a? Como estimular debates e discussões tendo a tela como intermediária? De que maneiras poderíamos propor exercícios e corrigi-los de forma participativa?
Partindo dessas questões, e com o suporte da coordenação e tecnologia do Colégio Santa Maria, buscamos caminhos que pudessem promover o ensino significativo, mesmo que em condições adversas.
Uma das estratégias foi a alternância metodológica, desde vídeos gravados pelos/as professores/as, leitura orientada de texto, aulas com roteiro, trechos de filmes e documentários, debates, divididos em momentos síncronos e assíncronos. Para que esses momentos funcionassem, foi fundamental o planejamento prévio de cada aula. O percurso também abriu espaço para o imponderável, o imprevisível, a dúvida e que também tornam o fazer pedagógico e a educação tão ricos. Partindo dessas premissas, buscamos atingir o maior número possível de alunas e alunos, mas atentas/os aos limites que nos são impostos por problemas que estão além do alcance da escola.
A 2a série do Ensino Médio, por exemplo, ao estudar a Crise do Antigo Regime, fez uso de roteiro e leitura dirigida de trechos da obra “A Etiqueta no Antigo Regime Clássico”, do filósofo Renato Janine Ribeiro, bem como trechos do filme “Ligações Perigosas”, de Milos Forman. Entendemos como fundamental possibilitar momentos de contato com obras que saiam do universo dessa geração e colaborem para a amplitude conceitual e cultural. A partir desses documentos, criou-se um ambiente possível de reflexão sobre a vida na corte, seus excessos e privilégios e dessas discussões pensar o Ethos Nobiliárquico. Como conceito tem história e não pensamos em processos presos ao seu tempo, abriram-se pontes para a discussão sobre privilégios e desigualdades presentes na ética burguesa e, dessa forma, construímos diálogos com a contemporaneidade, o isolamento que pode ser vivido por tão poucos no Brasil da pandemia.
Todas essas experiências intermediadas pela distância/isolamento de parte do grupo de alunas/os, exigiram grandes esforços para que se efetivassem. Nem sempre elas ocorrem como gostaríamos e resultam em aprendizados significativos.
Outro grande desafio para o ensino remoto foram as avaliações desse processo. Como pensar instrumentos de verificação e também de aprendizagem, evitando a simples reprodução, a famosa “cola”? Novamente a coletividade se fez presente, pois professores/as trocamos estratégias diversas para incentivar a autonomia dos/as alunos/as através de práticas diversificadas. Sem medo da “boa prova”, a avaliação operatória, utilizamos documentos e textos historiográficos inéditos que estimulam a prática da leitura, distribuída em um tempo possível para a análise, reflexão e produção de autoria. Trabalhos em grupo, apresentações de seminários são possíveis a partir da gama de ferramentas tecnológicas que temos hoje e que boa parte desses jovens conhecem muito mais que nós mesmos/as.
Não é, nem foi um projeto fácil. Esperamos a volta desses/as alunos/as em condições adequadas de saúde, cheios/as de dúvidas, temerosos/as quanto ao progresso das turmas, porém o compromisso com a educação não ocorre sem os desafios constantes e a construção de novos caminhos.