Depois de uma imersão pelos fatos mais marcantes da nossa História, turmas da 3ª série do Ensino Médio programam uma saída de estudos para um dia de visitas a vários locais de memórias da ditadura civil-militar da cidade de São Paulo
Autoria: Sonia Brandão – Professora de História da 3ª série do Ensino Médio
No último 31 de março, acompanhei atentamente os registros de manifestações Brasil afora – artigos de opinião em vários veículos de comunicação, cursos e simpósios em Universidades, passeatas e vigílias nas ruas, exposições, peças de teatro, shows – lembrando os 60 anos do Golpe Militar que inaugurou a mais longa ditadura política que o país viveu em seus 524 anos de História oficial.
Essas efemérides cumprem um papel importante na construção da memória coletiva de uma sociedade. Reconhecer no passado comum marcos de identidade esteve na base da formação, não somente das nações modernas, mas igualmente, de povos e culturas antigas e diversas.
O que nos coloca no centro dessa discussão é justamente o papel que assumiu a Escola e a Educação formal especialmente na modernidade. A universalização do acesso à escola, fenômeno do pós-Segunda Guerra, acabou por alargar nossa função.
Dessa forma, fazendo valer os valores básicos do pensamento Iluminista burguês que colocou para o Ocidente o projeto de civilização que as democracias contemporâneas defendem até agora, é preciso lembrar sempre – e sobretudo hoje com o sopro de velhas e novas ditaduras pelo mundo – o compromisso da Educação para a democracia.
O Colégio Santa Maria tem como eixo central na 3ª série do Ensino Médio colocar em perspectiva histórica o debate em torno do binômio Ditadura X Democracia, da virada do século XIX, com a abolição final da escravidão e a Proclamação da República, até o atual momento da História do Brasil. Fazemos isso dialogando com a Europa, os EUA e nossos vizinhos da América Latina, pensando nos pontos de conexão e naquilo que nos particulariza no mesmo contexto.
Vamos lembrar que o século XX foi fértil em experiências autoritárias e que o Brasil passou por duas de longa duração: os oito anos do Estado Novo capitaneada por Vargas (1937-1945) e a Civil-Militar (1964-1985) sob o comando das Forças Armadas, de uma tecnoburocracia civil e largo apoio do empresariado e de uma parcela importante da sociedade.
É claro que Vargas, Hitler, Mussolini, Stálin, Peron, Médici, Videla e Pinochet fazem parte do repertório de formação de nossos estudantes. Assim como as lutas políticas, sociais e culturais que estiveram por trás do seu desmonte e ajudaram a compor novas lufadas de democracia.
O Colégio Santa Maria consciente historicamente como sempre esteve do papel das instituições públicas e privadas do setor de Educação formal, não poderia se omitir e, mais uma vez, organiza uma Saída de Estudos para as 3as. séries do Médio que verticalizará o tema.
No 2º semestre, sairemos com um grupo para dividirmos um dia de reflexão visitando vários sítios de memória da ditadura civil-militar na cidade de São Paulo.
As Saídas de Estudos cumprem um papel importante ao buscar materialidade para aquilo que estudamos na teoria e obrigar-nos a romper a bolha de segurança do bairro, da localidade.
Uma outra São Paulo se apresenta. Dessa vez, vista pelos radares da História do Brasil e do compromisso do Santa Maria com uma Educação para a consolidação democrática no país.
Fecharemos essa experiência recebendo novamente – já o fizemos em 2019 – a montagem da peça Villa, de Guilhermo Calderón, que será aberta para toda a comunidade, e questiona o lugar das memórias difíceis a partir da perspectiva da ditadura chilena (1973-1990).
Vamos pensar, coletivamente, como são construídas essas memórias e qual a importância de defendermos a democracia?
Crédito: Imagem de capa – Cartaz de divulgação da peça “Villa” apresentada no Santa Maria em 31 de maio de 2019