Ensino Médio

Reflexão sobre o tema sexualidade no Ensino Médio

A abordagem deste assunto com nossas alunas e alunos é feita de uma maneira responsável e abertura ao diálogo.

Autoria: Adilma Secundo Alencar – Professora de Projeto de Vida e Literatura

Sexualidade é o tema central das turmas, durante as aulas de Projeto de Vida no terceiro bimestre. A abordagem do assunto tem acontecido de diferentes maneiras: formulários anônimos nos quais é possível que as/os estudantes digam o que pensam sem a exposição que a participação oral pressupõe, pequenas rodas de conversa a partir de leituras a respeito do tema, conversas coletivas com toda a turma a partir de dúvidas expostas pelo grupo etc.

Falar de sexo com as turmas do Ensino Médio não é uma novidade, já que dentro da visão biológica do termo, elas e eles já tiveram explicações sobre aparelho reprodutor feminino e aparelho reprodutor masculino.

O que é novo nessa proposta é que, embora falemos de sexo, a ideia é abordar a sexualidade; para isso o primeiro passo é ouvi-las/ouvi-los, isto é, antes de explicar a complexidade do termo, é importante ouvir o que cada pessoa tem a dizer. Nosso ponto de partida foi a seguinte pergunta:

–  Quando a palavra é sexualidade, qual o primeiro pensamento que surge na sua cabeça? Por quê?

Cada pessoa pôde responder esta questão anonimamente, via formulário, pelo Google Sala de Aula. Seguem abaixo algumas das respostas:

1 – Uma forma de como sentimos em relação a outras pessoas (na forma romântica); hétero, pois é o que eu sou;

2 – Tabu; um tema totalmente necessário para ser discutido;

3 – LGBTQI+ por estar sendo um assunto mais abordado nos últimos anos e ser relacionado a essa comunidade;

4 – Confusão.

Cada aluna (o) já trazia consigo uma resposta sobre o tema sexualidade e sobretudo já compreendia, de algum modo, a relação do tema com nossos afetos, como observamos nas palavras “sentimos, “confusão, “sou”, vocábulos que têm no seu cerne questões existenciais que orientam nosso estar no mundo. A primeira etapa dessa conversa foi discutir coletivamente essas respostas, a fim de nos familiarizarmos com a ideia de falar sobre sexualidade dentro de um grupo de 30, 34 pessoas. Levantar a mão e perguntar sobre o tema ou comentá-lo é um desafio para as(os) jovens, mesmo os mais desinibidos, mas é nesse momento que, aos poucos, vamos construindo uma ação que nos orienta a tratar de forma responsável e, sobretudo, de maneira pública um assunto que até pouco tempo tínhamos como censurado. Após esse primeiro momento, fizemos uma reflexão a partir de uma leitura compartilhada.

Vamos refletir e dialogar?

Após uma compreensão mais larga a respeito do que é sexualidade e, sobretudo, a partir da distinção entre o que é sexo e o que é sexualidade, as (os) estudantes reuniram-se em pequenos grupos (escolhidos por elas e eles), receberam a orientação de continuar a falar sobre o tema e, ao final dessa conversa, escrever numa folha em branco alguma dúvida a respeito da discussão ou mesmo um aspecto a respeito de sexo, prevenção etc, que ela ou ele gostaria de discutir com a turma. A fim de garantir a participação de todo o grupo, expliquei que o bilhete não deveria conter o nome da pessoa, era imprescindível o anonimato.

Assim, depois de um primeiro momento de reflexão sobre o assunto, nós pudemos nos sentar em roda para conversar (turma de 30-34 integrantes). Ao centro da roda ficou uma caixa contendo todas as perguntas e sugestões de temas escritos pelo grupo na semana anterior. As inquietações expostas pelas (os) estudantes foram imprescindíveis para uma conversa honesta a respeito de um tema que diz respeito à própria construção subjetiva dos sujeitos e implica, portanto, um direito. Imaginar uma sociedade na qual homens e mulheres exerçam sua liberdade cidadã é propor uma educação que pensa o corpo como linguagem, desejo e ação. Falar do desejo é dizer também de responsabilidade, de saúde, de afetos e de cultura, por isso não podemos nos furtar a ouvir o que o grupo tem a dizer e, a partir , pensar na nossa responsabilidade de construir um ambiente de segurança no qual todas e todos possam expressar suas dúvidas e construir saberes coletivamente. Assim, alunas e alunos vão construindo laços coletivos e afetivos enquanto aprendem sobre as responsabilidades que estão postas na experiência da juventude.

A conversa aconteceu de maneira tranquila e o aspecto mais importante é que, ao final de um desses encontros, algumas alunas sugeriram que o bate-papo continuasse na próxima semana; a sugestão foi acatada e nosso bate-papo continuará…

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