Durante o isolamento imposto pela pandemia, as aulas de Matemática foram parar na sala, no quarto e até na cozinha. E não é que deu certo?!
Autoria: André Augusto Vallado Batista, professor de Matemática do Ensino Médio do Colégio Santa Maria
Março de 2020. Aqui no Brasil, estamos levando uma vida normal, temos nossas alegrias e tristezas, tudo segue como sempre. De repente, um cenário de filme de ficção científica misturado com terror se faz presente. Um vírus desconhecido – e até então distante de nós – toma conta do mundo. Espalha-se com enorme velocidade e letalidade. As previsões são catastróficas. O mundo fica de joelhos. A solução imediata apontada pelos cientistas e estudiosos é o isolamento social. As pessoas se trancam em suas próprias casas no mundo inteiro, a única solução naquele momento. Com isso, as escolas fecham, professores e alunos terão que ficar em casa. A escola não é mais um lugar seguro.
O que fazer? Parar os estudos? Não. Nos momentos de crise, o ser humano faz uso de sua admirável capacidade de criação e improvisação. Na educação não foi diferente. Professores e alunos se reinventaram. Vamos trazer este cenário para uma realidade mais próxima, o Colégio Santa Maria.
Formação é tudo
Desde cerca de um ano antes da pandemia, o Santa Maria, mais precisamente o Ensino Médio, de forma quase que intuitiva e muito acertada, promove para seus integrantes (corpo diretivo e professores) uma formação continuada que dura até os dias de hoje. Cursos de aperfeiçoamento foram desenvolvidos especialmente para o Colégio pela empresa Google, visando à utilização de novos instrumentos de tecnologia para a educação, algo de vital importância para o sucesso posterior. Cada professor pôde, de forma individualizada e de acordo com suas capacidades, desenvolver seu programa de ensino. Assim, novas palavras começaram a fazer parte do nosso vocabulário, tais como EAD (ensino a distância), aulas remotas, videoconferências, videoaulas, Google Meet e por aí vai. No começo foi difícil, mas em pouco tempo nos adaptamos.
Da lousa para o vídeo
No meu caso, trilhei o caminho das videoaulas, algo que nunca tinha feito na minha vida. Fazendo uso dos conhecimentos adquiridos e pesquisas, comecei timidamente a produção. Minha opção por este trajeto foi pelo fato que os alunos poderiam assisti-las a qualquer momento, sem os problemas de conexão que eram comuns naquela ocasião. Além disso, poderiam assistir às videoaulas em horários alternativos, pausar para fazer anotações e, principalmente, assisti-las novamente sempre que necessário. As videoaulas também ficariam à disposição no portal durante todo o ano.
Uma vez convencido que o caminho era esse, o problema seria como fazer. Não tinha mais lousa, giz, projetor e material escolar. A solução deveria estar ao meu alcance no meu ambiente daquele momento, ou seja, dentro do meu apartamento. O formato tradicional não se encaixava. Simplesmente simular uma aula tradicional e filmar não iria entreter os alunos que estariam em suas casas de frente para uma tela de computador. Diante do impasse me veio a ideia de utilizar o que tinha em casa e fazer uso da criatividade.
Do limão uma limonada (por aula)
O conteúdo inicial a ser desenvolvido era Análise Combinatória e Probabilidade. Procurei baralhos de cartas nas gavetas antigas, jogo de dados, jogo de palavras cruzadas com aquelas pecinhas quadradinhas de madeira, tabuleiro de roleta e tudo que pudesse ser utilizado. Usei também latas de refrigerantes, lápis, medalhas, tampas de garrafa e alguns objetos colecionáveis que chamariam muito a atenção dos alunos. Procurei trazer – literalmente – os exercícios e a teoria para a prática.
O cenário também seria importante como um pano de fundo. A cada gravação tentei algo novo, explorando o que tinha. Uma sala diferente, uma estante com os colecionáveis, janela com o pôr do sol e até a cozinha para exemplificar um exercício onde um suco era preparado (aliás, de verdade).
Isso tudo realmente prendeu a atenção dos alunos, que ficavam ansiosos para ver o que aconteceria na próxima aula. Também fiz uso de plataformas digitais, como, por exemplo, o Geogebra, com demonstrações e animações. Quando necessário, a tela do Chromebook cedido pelo Colégio para uso dos professores foi utilizada como uma lousa digital, para desenvolver alguns conteúdos e principalmente para a correção de exercícios.
No final, acredito que a empreitada foi bem-sucedida. Os alunos aprenderam e se entretiveram. E, principalmente, em nenhum momento houve prejuízo do conteúdo.
Hoje os dados apontam que, felizmente, a pandemia está perdendo força. Ainda é cedo para afrouxarmos, porém, as perspectivas são positivas. Fica um legado: nossas aulas nunca mais serão as mesmas, os alunos com certeza também absorveram novas formas de aprendizado. Todos nós sairemos diferentes desta pandemia!