No 2º bimestre deste ano, no curso de Filosofia e Estudos Políticos, desenvolvemos a leitura da primeira parte do texto Hegel e Haiti.
Autoria: Marcos Iki, Professor de Filosofia do Ensino Médio.
No 2º bimestre deste ano, no curso de Filosofia e Estudos Políticos, desenvolvemos a leitura da primeira parte do texto Hegel e Haiti, de Susan Buck-Moors. A autora desenvolve uma reflexão acerca da relevância do contexto histórico e, sobretudo, da Revolução Haitiana, para as proposições filosóficas de Hegel. Nos ativemos à primeira metade do texto, que aborda outros autores, e na qual é problematizada a relação dos iluministas com o fenômeno concreto da escravidão nas Américas.
Em vez de adotar o tradicional distanciamento acadêmico, que busca se prevenir de um julgamento anacrônico, Buck-Moors explora a produção e circulação das reflexões sobre as colônias europeias. Embasada na existência de leis como o Code Noir francês, que regulamenta a escravidão em detalhes, e de periódicos como o Minerva alemão, de grande circulação no meio intelectual, a autora evidencia que a ignorância sobre o escravismo era impossível para os iluministas.
Esta inflexão é relevante para um curso de Ensino Médio. É bastante recorrente pensarmos nos autores como homens de seu tempo – e note-se que, quando abordamos o Iluminismo, o mais tradicional nos cursos e nos vestibulares é lermos os autores, e não autoras. Mas o que Buck-Moors demonstra é que estes pensadores fizeram escolhas de se posicionar ou se omitir em face das questões de seu tempo. É patente a contradição entre um discurso que defende a liberdade e a omissão relacionada ao escravismo – como no caso de Rousseau – e ainda mais sua defesa – como fez Locke.
Assim como estes autores, somos mulheres e homens de nosso tempo. Nos é dado viver, conhecer e agir em condições dadas, ainda que possamos construir a partir delas um horizonte que seja distinto. A escolha de temas e de textos em uma sala de aula, por exemplo, constrói um mundo comum para esta pequena comunidade de reflexão. A leitura de Buck-Moors evidencia que, assim como era para os autores contratualistas, não há neutralidade possível em questões fundamentais.
Este procedimento tem levado a uma pergunta recorrente na sala de aula, independentemente do tema específico da autora ou autor estudado: qual é a posição política de quem elaborou o texto que iremos trabalhar? Essa é uma das propostas (dentre tantas outras) do Ensino Médio no Colégio Santa Maria.