Educação em Pauta

Sobre esse tal de ensino híbrido

Especialista em educação e palestrante do Prisma esclarece as características e tudo que envolve o universo do ensino a distância, especialmente o formato que mescla estudo online e offline. Leitura obrigatória, já que a pandemia acelerou o futuro da aprendizagem.

Autoria – Tatiana Pita é pedagoga, psicopedagoga, mestre em educação pela PUC-SP, assessora pedagógica, autora de materiais didáticos, palestrante e formadora de professores no Prisma – Centro de Estudos do Colégio Santa Maria e em escolas da rede pública e privada, além de proprietária da empresa Pita Assessoria Educacional.

A pandemia potencializou a discussão e o uso das tecnologias como estratégias de aprendizagem e nunca se falou tanto sobre ensino híbrido. Mas o que realmente significa este tipo de metodologia? Será que estamos preparados para seu uso?

Para entender melhor esta nova abordagem educacional, é preciso primeiramente diferenciá-la de outras concepções ou dos modelos adotados, de modo emergencial, neste período pandêmico. Vamos lá:

Quando falamos de educação a distância (EAD), nos referimos a uma modalidade de ensino desenhada para prestar atendimento, aplicar atividades, aulas e outras demandas em um ambiente de aprendizado, com apoio de tutores e recursos tecnológicos que favorecem o ensino. Ela possui um modo de funcionamento próprio, com uma concepção didático-pedagógica, organizada de modo flexível, que abrange conteúdos, atividades e todo um design adequado às características das áreas dos conhecimentos gerais e específicos, contemplando todo processo avaliativo discente.

As aulas remotas, adotadas em meio à pandemia, não são consideradas uma modalidade de ensino, mas sim uma solução rápida e acessível para solucionar uma situação emergencial como a que estamos vivendo. A finalidade é minimizar os impactos na aprendizagem dos estudantes advindos do sistema de ensino originalmente presencial, aplicadas neste momento de crise.

As aulas simultâneas são a possibilidade de o estudante participar de uma aula estando fisicamente em sala ou virtualmente.

Já o ensino híbrido é a metodologia que combina aprendizado online com o offline, em modelos que mesclam momentos em que o aluno estuda sozinho, de maneira virtual, com outros em que a aprendizagem ocorre de forma presencial, valorizando a interação entre pares e entre aluno e professor. Possui um programa formal de aprendizagem, em que há uma parte controlada pelo aluno e um programa controlado pelo professor. Integra o espaço físico e virtual.

Isso significa que nós ainda não implantamos o ensino híbrido em nossas escolas, mas sim, por causa da pandemia, pudemos experimentar novas estratégias e espaços de aprendizagem.

Com esses conceitos claros, podemos agora compreender melhor esta metodologia e, principalmente, os motivos que nos levam para uma escola diferente daquela na qual nos formamos.

O que mudou?

Hoje a escola passa de um espaço de escuta e armazenamento de informações para um lugar de troca e diálogo, ampliando suas discussões e seu tempo por meio das novas tecnologias. A sala de aula não mais é o retângulo com fileiras e a aula não dura mais cinquenta minutos. Tudo vai além dos muros da escola.

Os alunos chegam em casa e continuam conversando com os amigos pelas redes sociais, a turma da classe continua reunida, as tarefas continuam sendo discutidas, os conflitos e as brincadeiras. Na hora de estudar, muitos recorrem a videoaulas em sites de pesquisa para entender melhor, buscam tutoriais e outros recursos. É a composição entre o caderno, o livro e o conteúdo virtual.

E tudo isso porque o mundo está em constante mudança e o novo século pede novas competências, como: ser criativo, resolver problemas, saber trabalhar em equipe, gerir seu tempo, saber argumentar, ter empatia e ser resiliente, ser proativo e aprender a aprender, estando em constante formação.

O ensino híbrido colabora com o desenvolvimento destas competências, pois propõe uma melhor organização dos momentos de aprendizagem do estudante. O tempo presencial deve promover aprendizagens mais reflexivas e a função do professor passa de “detentor do saber” para tutor, facilitador de discussões, líder de projetos.

A integração do espaço online e offline é a garantia da personalização do aprendizado e a ocupação do espaço presencial para desenvolvimento das competências socioemocionais, a prática e a construção criativa.

Mas será que estamos preparados para isso? Entendemos que implantar o ensino híbrido vai além de instalar plataformas e recursos tecnológicos? É preciso verdadeiramente:

  • Fazer da escola espaço de alegria em aprender;
  • Planejar aulas em que o professor se coloque no lugar do aluno e pense em suas aprendizagens e não em como melhor ensinar conteúdo;
  • Buscar modelos de trabalho que ajudem os alunos a se desenvolverem de modo integral;
  • Fazer com que os alunos desejem perceber que estão evoluindo;
  • Fazer com que os alunos desejem e precisem interagir socialmente.

O ensino híbrido não pode ser visto como uma estratégia de aula para que os alunos participem mais ou usem recursos tecnológicos, mas como uma ação disruptiva que faz da escola espaço de aprendizagens que conduzem a criação e inovação.

Sobre os formatos existentes

Até hoje temos quatro modelos híbridos que podem ser implantados nas escolas:

  • Modelo por rotação: apresenta uma sequência fixa de aprendizagem, com um dos momentos online, com a mudança determinada pelo professor, nele os alunos aprendem principalmente na escola física e apresenta quatro estruturas:

Rotações por estação: a turma é separada em pequenos grupos que rotacionam periodicamente entre as estações. Pelo menos uma delas é online. O professor organiza o plano, supervisiona as ações e tira as dúvidas, determina o tempo na estação. As estações são independentes e com um método de avaliação. Os alunos compartilham conhecimento e metas. Nas estações online podem ter videoaulas, simuladores, atividades digitais. Nas estações offline pode haver desafios, experimentos, leituras, projetos;

Laboratorial rotacional: a turma é dividida em dois grupos que alternam as aulas entre a sala e o laboratório. No laboratório podem ter videoaulas, games, pesquisas, documentários, infográficos. Na sala de aula presencial pode haver aulas expositivas, projetos, desafios, debates, atividades;

Sala de aula invertida: o que é feito online gera dados para o professor que propõe atividades para a sala. A aula começa online, vai para o offline e finaliza no online. No online pode haver jogos, videoaulas, simuladores, pesquisas, documentários. No offline as atividades são: projetos, experimentos, debates, exercícios. Há uma continuidade da aprendizagem que envolve o estudo individual, as trocas e a sistematização e construção do aluno. A aula invertida não significa que o aluno pesquisa sobre o que vamos falar, mas tem contato com subsídios que o ajudarão nas situações propostas em sala;

Rotação individual: cada aluno tem um roteiro pessoal. Há uma avaliação diagnóstica que será base para elaboração dos roteiros. O professor auxilia no gerenciamento dos roteiros. E o aluno organiza seu tempo de estudo e execução dos roteiros propostos. Na estação online pode haver videoaulas, atividades, simuladores, games, pesquisas. E na estação offline, desafios, experimentos, jogos, leituras.

  • Modelo Flex: utiliza quase que exclusivamente matérias online para o seu desenvolvimento, é semelhante à rotação individual. O aluno varia o tempo entre o estudo online e offline para busca de orientação. Os estudantes também têm uma lista de temas a percorrer, com ênfase no ensino online. O ritmo de cada um é personalizado e o professor fica disponível para tirar dúvidas. Como é um modelo disruptivo, acaba por apresentar uma organização de escola ainda incomum no Brasil.
  • Modelo à la carte: o aluno escolhe módulos online. Muito usado no Ensino Médio, complementa o curso presencial. O aluno precisa cumprir os programas definidos com o professor. Há espaços variados de aprendizagem. O aluno é responsável pela organização de seu estudo, de acordo com objetivos gerais a atingir. Para isso, tem a parceria do educador. A aprendizagem, que pode ocorrer no momento e local mais adequados, é personalizada e pelo menos um curso é ofertado online.
  • Modelo virtual enriquecido: o curso acontece virtualmente, enriquecido com alguns artifícios tradicionais. Há sessões de aprendizagem presencial, mas permite que os estudantes façam o resto do trabalho online, de onde eles preferirem. Ele acontece por meio de recursos virtuais, podendo mesclar momentos em sala de aula, ou até mesmo dividindo os dias em que os alunos estarão em casa e momentos em que os alunos terão que ir até a escola. Se o professor do curso ou da disciplina verificar como está acontecendo um certo atraso na aprendizagem do aluno, ele deverá solicitar com mais frequência a participação do aluno durante o momento escolar.

Para implantar verdadeiramente o ensino híbrido em nossas escolas, precisamos primeiro entender que processos levam tempo, que precisam de estudo, análise, discussões, reflexões, tentativas, erros, construções e reconstruções.

O ensino híbrido é o lugar para onde estamos caminhando, mas é preciso fazer este trajeto com consciência e entendimento, caso contrário os resultados que desejamos não acontecerão e apenas levaremos os mesmos comportamentos das salas presenciais para as salas virtuais.

“Inovação é um processo e não um evento” – (Blended: usando a inovação disruptiva para aprimorar a educação. 2015. Ed. Penso)

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Tags: Ensino Híbrido, Prisma

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