Turmas do 4º ano estão descobrindo outras habilidades importantes nas aulas de Corpo em Movimento; um processo gradativo e de formação integral das crianças.
Autoria: Ricardo Borduchi Ferreira – Professor de Educação Física
Faz um bom tempo que a Educação Física vem se remodelando e se transformando em algo além do corpo e do movimento. O desenvolvimento de habilidades é o carro-chefe na consolidação de aprendizagens e na formação integral do indivíduo.
Dentro dos eixos desenvolvidos nas aulas, muito além de jogos, esportes, ginástica, condicionamento físico, brincadeiras, entre outros, estão sendo trabalhados em paralelo com essas atividades, habilidades que são de vital importância para o ser humano: estamos falando de habilidades cognitivas, onde existe o estímulo ao pensamento e resoluções de situações-problema, habilidades sociais, mostrando que cada um de nós é um ser que vive e depende do convívio em sociedade, enxergando o próximo como fator importante para uma convivência harmoniosa, e as habilidades socioemocionais, sobre as quais vou falar um pouco mais, dentro do trabalho que desenvolvemos no 4º ano do Colégio Santa Maria.
Em diversos estudos, foi observado que as aulas de Educação Física podem estimular o desenvolvimento de diferentes habilidades socioemocionais, como comportamentos pró-sociais (ajudar outras pessoas), cooperação, responsabilidade, liderança, estabelecimento de metas, ética, resolução de conflitos, comunicação, dentre outras. Neste sentido, verificamos que as aulas são um “campo fértil” para colocarmos em pauta temas relevantes como esses. Temos dado continuidade em um projeto iniciado no 3º ano com o tema “Fair Play”, onde discussões como a importância do saber vencer e saber perder, lidar com frustrações, jogo limpo e respeito aos adversários foram muito debatidas.
Este ano ampliamos as discussões no 4º ano para a importância de disputas equilibradas, fortalecendo a integração de meninos e meninas e o respeito à mediação das atividades (professor, árbitros, colegas). Outros elementos importantes que iniciamos e continuaremos no decorrer do ano são a arbitragem compartilhada, a tomada de decisões coletivas e a mediação de conflitos.
Uma das estratégias que utilizo é o processo de escolha de equipes. A maioria das atividades é realizada em turmas mistas, sendo assim, combinamos que neste processo do primeiro bimestre a criança escolhida sempre escolhe a próxima e, como regra, menina tem de escolher menino e vice-versa. Desta forma, fica claro que todos os alunos podem escolher alguém, com exceção dos dois últimos, que obrigatoriamente serão os primeiros da aula seguinte.
No começo tudo é festa e alegria, mas o incômodo acontece quando as crianças começam a perceber que muitas vezes o mesmo aluno(a) acaba iniciando o processo em mais de uma aula. Quando estamos neste ponto, chegamos no objetivo que esta prática nos apresenta, ou seja, nos colocarmos no lugar do outro, discutirmos porque isto se repete, como nos sentiríamos sendo escolhidos por último, e por aí vai. Tudo é feito em rodas de conversa em tempos diferentes com cada turma, pois cada uma apresenta a percepção de uma maneira diferente.
Outra atividade que fomenta alguns pontos interessantes para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais são as duas aulas de livre escolha que as turmas têm ao final de cada bimestre. A turma escolhe duas brincadeiras, jogos ou esporte para praticarem. A escolha é deles e a responsabilidade de fazer a mediação da atividade escolhida.
Aspectos como empatia, resolução de situação-problema, ética, injustiça, entre outros pontos, são discutidas coletivamente, pois os conflitos aparecem, mas são combustíveis para trabalharmos juntos, por meio de rodas de conversas. Este trabalho requer um período de tempo muito maior, que não termina este ano, pois é um processo de uma educação de base. Desta forma, as aulas de Educação Física oferecem experiências que ficam para o futuro dos alunos; elas transcendem o momento presente.
Depoimentos
Manoela Rocha 4B
“Acho boas as aulas livres, conseguimos jogar sem a ajuda do professor, criamos mais desenvolvimento nas amizades”.
Leonardo Muller 4B
“É bom porque não escolhemos por amizade, mas tem a parte ruim que às vezes escolhemos quem não conhecemos. Quando menino escolhe menina é um processo justo, mas não devemos deixar sempre os mesmos alunos por último”.
Thiago César 4A
“O sistema de escolha é legal porque todo mundo vai escolher, só os do fundo que não, mas eles escolhem na próxima aula. Estou percebendo que as equipes estão ficando cada vez mais equilibradas.”
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