No Colégio Santa Maria, cada rotina é um convite para que as crianças aprendam a se organizar, a cuidar do coletivo e a transformar o brincar em um exercício de liberdade e responsabilidade.
Autoria: Patrícia Cau – Professora de Educação Infantil do Colégio Santa Maria
Na escola, cada dia é tecido como uma colcha de retalhos feita de cores, sons, movimentos e afetos. Entre brincadeiras, combinados e momentos de convivência, as crianças “bordam” suas primeiras experiências de autonomia.
A jornada diária no Colégio Santa Maria representada por placas que mudam de lugar, funciona como um relógio de histórias. Ao virá-las, as crianças descobrem que o tempo tem ritmo, que as atividades se encadeiam e que elas próprias podem acompanhar esse fluxo. Trata-se de um grande passo: aprender a se situar, a se organizar e a esperar pelos desafios que virão.
Os combinados, por sua vez, são um alicerce invisível que sustenta a convivência e a aprendizagem. Mais do que “regras”, são pactos construídos coletivamente. Quando a criança participa de sua elaboração, percebe que sua opinião importa e que o bem-estar do grupo depende de escolhas e atitudes compartilhadas. Assim, desenvolve responsabilidade, respeito e consciência de que fazer parte também significa cuidar.
Cumprir um combinado não é apenas seguir instruções. É exercitar a capacidade de autorregular-se, de lembrar o que foi acordado e de decidir manter esse compromisso mesmo sem a intervenção constante do adulto. Ao revisar e atualizar combinados, as crianças percebem que regras não são estáticas: podem e devem ser repensadas para atender às necessidades do grupo, e terem flexibilidade por meio do diálogo.
A Hora da Brincadeira
E então chega o “brincar”. Muito mais do que um momento de lazer, a brincadeira abre possibilidades de descobertas, decisões e conquistas. Ao escolher o que brincar e de que forma, as crianças exercitam a tomada de decisões, aprendem a lidar com frustrações, a negociar e a defender suas ideias, enquanto consideram as dos colegas. Ao planejar uma construção com blocos, por exemplo, precisam combinar quem fará o quê; ao inventar um jogo, elaboram regras e decidem juntas como será; ao brincar de faz de conta, exploram papéis sociais e experimentam a responsabilidade de cuidar de algo ou de alguém.
Na brincadeira livre surge a coragem de arriscar, tentar, errar e recomeçar sem medo, mas com curiosidade. No brincar orientado, aparecem novas estratégias, observações e formas de ampliar as possibilidades. Em ambos os casos, a autonomia floresce, pois cada escolha, gesto ou solução nasce da própria criança, e não de um roteiro pronto.
Como bem observou Vygotsky, “brincar é a linguagem natural da criança, e é através do brincar que ela se expressa, se comunica e constrói seu conhecimento.” É nessa linguagem natural, entrelaçada com jornadas estruturadas e acordos coletivos, que a autonomia se constrói dia após dia, tecendo experiências significativas que promovem autorregulação, responsabilidade e participação ativa na construção do próprio conhecimento.
A construção da autonomia exige intencionalidade pedagógica capaz de equilibrar estrutura e liberdade, direcionamento e descoberta. A jornada do dia, os combinados e as brincadeiras, quando articulados conscientemente, favorecem experiências autênticas de autorregulação e responsabilidade. O desafio está em sustentar esses espaços de experimentação, reconhecendo que a autonomia se constrói de forma processual, por meio de relações respeitosas que valorizam a criança como sujeito competente e participativo de sua própria aprendizagem.
















