Depois de ir para Caxambu (MG) em uma missão voluntária com os estudantes do Ensino Médio, professora é surpreendida e deixa este relato carregado de significado e emoção.
Autoria: Mayra Oliveira Lourenço – Professora de História (Brasil e as Múltiplas Identidades) da 1ª série (Ensino Médio)
Na última semana, ao abrir o meu armário – na sala dos professores – eu me deparo com uma carta endereçada aos responsáveis pela ação voluntária do Colégio Santa Maria, oriunda de Caxambú (MG). Ao abrir o envelope e desdobrar as folhas, noto que é uma moção de agradecimento emitida pela câmara municipal para nosso projeto de Inserção Social, desenvolvido em agosto deste ano.
O projeto contou com a participação de 32 alunos e alunas do Ensino Médio e possuía a tarefa de, ao longo de uma semana, visitar centros de cuidado de idosos, escolas municipais da cidade e da área rural, casas de acolhimento e o parque da cidade. Foram seis dias de atividades pretendendo trazer aos nossos alunos e alunas a oportunidade de mergulhar em uma realidade social distinta da que estão diariamente acostumados, além de valorizar o convívio e o trabalho coletivo como ferramenta de intervenção social.
As ações foram permeadas por conversas, relatos e discussões acerca do papel que cada cidadão possui na construção da sociedade que acredita, bem como as diferentes desigualdades que perpassam a realidade brasileira, representada em uma cidade no interior de Minas Gerais. O local foi escolhido por incorporar a experiência urbana e a vida no campo com situações de vulnerabilidade, mas também com projetos sociais organizados pela sociedade civil tendo em vista a melhoria da qualidade de vida dos moradores.
O trabalho dialoga com o projeto político pedagógico do Colégio Santa Maria, que entende a educação para a cidadania como um dos seus pilares fundamentais, sobretudo criando experiências que incentivem a ação solidária e a participação democrática como valor a ser trabalhado entre os nossos estudantes.
O agradecimento por parte do município é apenas uma fração do que significa a semana que passamos longe de casa. Ela não revela o quanto cada um de nós viveu intensamente e o quanto aprendemos com as pessoas e as organizações que nos abriram as portas e confiaram que um grupo de adolescentes estava disposto a aprender com os diferentes movimentos sociais e a dividir o seu tempo para trocar com os idosos e crianças em situação de vulnerabilidade.
Ao contrário do que possa parecer, a ação solidária não é sobre doar, mas sobre aprender com o outro e “fazer junto”. Assim, não construímos nesse projeto ideias de “oferecer”, enxergando o outro como um ser desprovido de história, mas a partir da perspectiva que entende e valoriza a dignidade humana em todas as formas, compartilhando a experiência da soma. Desta forma, o foco não é apenas o brincar ou o fazer sorrir, mas entender que as realidades são múltiplas, complexas e profundamente desiguais, e que todos nós somos agentes transformadores, sobretudo quando reconhecemos a humanidade nos nossos pares e aprendemos com a potência do partilhar e do fazer com o outro.
De minha parte, eu que agradeço aos grupos que nos receberam na cidade de Caxambu e aos estudantes que confiaram na proposta de vivenciar um contexto fora de sua zona de conforto, conhecendo pessoas e suas histórias, aprendendo na e com a diversidade. A viagem à Caxambu significa a renovação da esperança em um mundo mais justo quando vivemos o encontro e a potência que significa ser solidário, no sentido mais precioso que pode existir, ou seja, a responsabilidade recíproca nos atos de doar e receber, trocar saberes, histórias, afetos e ideias.
Obrigada!