Educação em Pauta

O valor do tempo para a infância

Celebrar o tempo e sua importância na vida de cada criança é o tema desta reflexão da professora Luciana Proença, do 1º ano do Ensino Fundamental

“Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas…”

Manoel de Barros

 Uma mistura de sentimentos toma conta do nosso corpo quando precisamos vivenciar algo novo, assim como ir a uma festa com gente esquisita. Algo que queremos e não queremos. Exatamente como aquela criança, que tem medo do lobo mau, mas nos pede para contar inúmeras vezes a história dos “Três Porquinhos”.

Então, tem coisas nessa vida que não importa a faixa etária e nem as experiências vividas anteriormente. Não importa se será a primeira entrada no universo escolar ou se será a segunda, terceira ou quarta vez que essa mudança ocorre. Esse processo acontece até mesmo com os adultos: seja numa mudança de casa, de cidade ou de emprego. Processo esse que necessita de tempo e acolhimento.

Tempo, não só aquele contado no relógio e no calendário. Tempo para descobrir e ser descoberto, para encontrar e ser encontrado. Tempo para conhecer e ser reconhecido. Um tempo nosso, no meio de tudo. Um tempo no meio de tudo, só para nós!

Para os filósofos, o tempo é a medida do movimento. Para Piaget, é algo necessário para a construção do real. Dito isso, vamos refletir sobre a chegada das novas crianças ao Colégio.

Você, leitor, já deve ter reparado o tamanho físico da nossa escola, a quantidade de funcionários e pessoas que circulam pelo Santa Maria todos os dias. Se tempo é movimento e a concretização do real, quanto tempo será necessário para que tudo isso seja internalizado? Quantos passos serão necessários para percorrer todos os espaços? Quantos rostos e nomes terão que ser memorizados? Quanto tempo terá que ser vivido e quantas jornadas diárias irão compor a rotina de cada criança?

Parece assustador, mas não é! Somos feitos de experiências, de afeto e de relações. Em algum momento da vida, você já ouviu algumas dessas expressões: “O tempo cura tudo…” ou “Com o tempo isso passa.”. Sábios ditos populares, que parecem não dizer nada, mas que nos trazem uma profunda reflexão, acerca de que nem tudo acontece quando desejamos. Afinal, tem coisas na vida que não são medidas numericamente e, sim, com o ato experienciado.

Voltemos aos saberes dos filósofos e de Piaget: podemos dizer que precisamos “movimentar a ação” ou seja, de movimentação para reestruturar os novos acontecimentos. Um ir e vir diário para contextualizar tudo o que nos cerca. Repetir ações, falas, dar tchau e esperar um retorno, um fazer e refazer para então reorganizar-se e se encontrar no contexto. E assim, viver um dia de cada vez.

Vamos dar um tempo para as nossas crianças. Um tempo para a infância, para os abraços apertados, para o olhar desconfiado, para o silêncio… E assim, juntos, como uma comunidade educativa, permitir que construam um novo tempo. Um tempo que compreenda a individualidade de cada um porque o mais importante é o tempo que passamos juntos!

 

Saiba Mais!

Jean Piaget foi um psicólogo suíço, conhecido por suas contribuições fundamentais para a teoria do desenvolvimento cognitivo infantil. Ele defendeu que as crianças passam por diferentes estágios de desenvolvimento, onde constroem suas habilidades cognitivas e compreensão do mundo através da interação com o ambiente. Piaget é considerado um dos principais teóricos da psicologia do desenvolvimento e suas ideias influenciaram profundamente a educação e a psicologia infantil.

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