Linguagens

A comunicação por fanzines

Um estudo detalhado sobre a cultura, a arte e a história dos povos indígenas, do 6º ano, resultou na criação de publicações características dos anos 70, 80 e 90 e em uma linda exposição.

Autoria: Ana Carla Cavalcanti, Arthur Consiglio Campelo, Melissa Ferronato e Raquel Guirado – Equipe de professores do 6º ano

Fanzines – originário da expressão inglês fanatic magazine – caracterizam-se por serem publicações independentes na forma de panfletos ou revistas em miniatura. Por serem fáceis e baratos de fazer, viraram um interessante veículo de comunicação de movimentos contracultura.  O primeiro exemplar de que se tem notícia pode ter sido publicado em 1976 e esteve ligado ao movimento punk britânico.

Tendo formatos diversos e múltiplas possibilidades de trabalho, as turmas dos sextos anos do Colégio Santa Maria tiveram como desafio a criação de um fanzine que abordasse aspectos culturais de povos indígenas de norte a sul do Brasil, contemplando sobretudo a situação contemporânea dessas etnias.

O trabalho foi fruto das discussões feitas nas aulas de Língua Portuguesa sobre o livro O karaíba, lido pelos estudantes. A obra, escrita por Daniel Munduruku, e ilustrada por Mauricio Negro, tem como cenário o Brasil pré-cabraliano, e narra a história de fatos que antecederam a chegada dos portugueses por aqui.

A narrativa convida-nos a um exercício de pesquisa e imaginação, já que as etnias que aqui viviam não desenvolveram sistema de escrita. Durante o período de leitura, os estudantes vivenciaram jogos e brincadeiras indígenas nas aulas de Educação Física, e tiveram a oportunidade de receber o ilustrador Mauricio Negro, que veio à escola para falar sobre as imagens que compõem a obra e sobre muitas experiências vividas com os povos originários.

Krenak, Guajajara, Guarani-Kaiwoà, Tupinambá, Yanomami, Munduruku, Huni Kuin foram os sete povos estudados. Nas aulas de Língua Portuguesa, cada grupo de alunos se aprofundou em pesquisas para fazer um levantamento dos aspectos culturais, costumes, rituais, mitos, língua, localização e situação contemporânea de cada tribo.  A conclusão é a de que todos lutam diariamente para sobreviver e manter não só a identidade indígena, mas também o próprio território, ameaçado pelo garimpo e pelo desmatamento.

Nas aulas de Arte, a partir da análise do trabalho do ilustrador Maurício Negro e inspirados pelo universo dos desenhos e grafismos indígenas, os estudantes criaram diferentes ilustrações, apropriando-se de todo o repertório que adquiriram na leitura do livro, assim como nas pesquisas sobre os povos originários. Muitos grafismos indígenas representam elementos da natureza, como animais, plantas e paisagens, estabelecendo uma conexão profunda do ser humano com o meio ambiente.

Ao longo do estudo, os alunos se debruçaram sobre obras do Grupo Mahku (Movimento dos artistas Huni Kuin). O Grupo é um exemplo inspirador da vitalidade da arte indígena contemporânea.  Ao conhecer o trabalho produzido pelo grupo Mahku, os estudantes viram uma expressão artística viva, atual e em constante transformação, e construíram obras de arte inspiradas por este universo.

A PRODUÇÃO DOS FANZINES

Todas as informações pesquisadas foram tratadas e escritas nos fanzines, em um cuidadoso trabalho manual, em que os estudantes desenvolveram habilidades de escrita, organização, desenhos, curadoria fotográfica e criação de layout.

No interior do fanzine, formando um pôster, os estudantes produziram, nas aulas de Matemática, grafismos indígenas utilizando figuras geométricas planas. Para isso, realizaram uma pesquisa prévia que envolveu a identificação das cores predominantes nos grafismos e a compreensão dos significados simbólicos dessas cores dentro de cada tribo.

Além disso, fizeram uma análise das figuras geométricas presentes nas artes indígenas. Essa pesquisa realizada antes da construção dos grafismos foi fundamental para que eles entendessem a relevância cultural e simbólica das formas geométricas, conectando a geometria às tradições visuais dos povos indígenas. Essa atividade não apenas desenvolveu habilidades matemáticas, mas também promoveu uma conexão profunda com as tradições visuais dos povos indígenas, permitindo que os alunos reconhecessem a importância cultural dessas formas.

O trabalho sobre os povos originários é uma maneira de nos conectarmos com o nosso povo, de reconhecermos a diversidade cultural presente em nosso país e de mantermos vivas as histórias, os ritos e esta arte tão orgânica que se entrelaça à vida.

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