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Festa à vista: uma viagem pelo sertão nordestino por meio da leitura, ritmo e indumentária

A experiência dos alunos do 8º ano com os preparativos para a Festa Junina passou pela criação da coreografia e confecção das roupas, mas não sem antes conhecerem a fundo a cultura do Nordeste

Autoria: Raquel Guirado, Ricardo Borduchi e Tiago Fernandes de Souza – Professores de Arte, Educação Fisica e Língua Portuguesa

Ano vai, ano vem…E o período junino já aparece para enriquecer culturalmente a comunidade do Colégio Santa Maria. Muitos enxergam como apenas uma festa gigantesca envolvendo milhares e milhares de pessoas, mas não é bem assim!

O 8º ano enxergou a festa como uma oportunidade propícia para aprofundarmos e nos debruçarmos sobre a cultura e os costumes que podem parecer em um primeiro momento um pouco distantes, mas que depois da imersão, podemos ver o quanto nos rodeiam.

Com este olhar e revisitando o propósito pedagógico de alguns componentes, desenvolvemos um projeto interdisciplinar envolvendo Arte, Educação Física e Língua Portuguesa. Com objetivo principal de gerar conhecimento, aprendizado, fomentar o respeito ao diverso e conhecer uma cultura com suas peculiaridades, concluímos que é um campo perfeito e fértil para o crescimento e desenvolvimento das habilidades dos nossos alunos.

Sob o prisma das estratégias de ensino, desde o ano passado, focamos em representar a cultura do sertanejo, que é uma figura típica do Nordeste brasileiro, resultante do contato entre a população branca e os indígenas, que deu origem a uma população mestiça. A região onde habitam tem a denominação de “Sertão” e deriva do termo “desertão”, usado pelos portugueses.

Nos debruçamos na vida desta população da região semiárida, e percebemos o quanto ela nunca foi fácil. Com condições sempre adversas, secas periódicas, vegetação escassa e desigualdades sociais profundas. De um lado, os grandes proprietários com as suas terras e cabeças de gado apoiados numa estrutura social e política sólida e, por outro lado, os sertanejos, no limiar da sobrevivência, que ganhavam a vida cuidando do gado, curtindo o couro e o charque (carne-seca).

Com o desejo de explorarmos estes e outros aspectos com os estudantes do 8º ano, as conversas iniciais para explorarmos a Festa Junina começaram com o professor de Língua Portuguesa, Tiago.  Ele nos apresentou o livro O auto da Maga Josefa, com suas personagens Toninho e Josefa e o contexto da obra, a qual percorre regiões variadas do nordeste brasileiro e traz histórias com seres sobrenaturais advindos do folclore nordestino.

Vimos sentido em representar nas aulas de Educação Física esta cultura por meio do ritmo e das danças e, para enriquecer ainda mais este processo, nas aulas de Arte, os estudantes têm se debruçado no estudo da indumentária do sertão, explorando as vestimentas e a confecção,  para representá-los da maneira mais rica possível.

 AS ETAPAS DO PROCESSO

Tudo começou com a leitura do livro O auto da Maga Josefa, obra inaugural da autora Paola Siviero, com um objetivo ousado: ser uma obra representativa do nordeste brasileiro, escrita por uma autora mineira e com atmosfera fantástica, isto é, com seres sobrenaturais, explorando a riqueza do folclore nordestino e apresentando as peculiaridades dos estados que compõem o sertão, como Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. A própria autora nos relata, em seu prefácio, o desafio: “escrever este livro foi uma das experiências mais incríveis que já vivi, mas também uma das mais desafiadoras. Afinal, eu estava criando uma fantasia ambientada no Brasil, mas em uma região e em uma época que não são meus por vivência […] São cidades localizadas no agreste e no sertão, em diferentes estados, cujo bioma predominante é a caatinga e que às vezes sofrem com estações secas mais rigorosas. Esse é o cenário retratado, mas é importante frisar que essa é apenas uma entre incontáveis realidades existentes em cada Estado do Nordeste”.

Após as leituras de cada um dos dez capítulos do livro, os estudantes foram convidados a entender melhor a particularidade dos estados, seja para conhecer melhor cada região, como a culinária típica ou diferenças linguísticas ou culturais. Cada aluno opta por algo que o chamou a atenção na leitura e expõe para a turma maiores detalhes do objeto pesquisado ou analisado, enriquecendo a experiência leitora.

MÃO NA MASSA PARA A COREOGRAFIA E A VESTIMENTA

Nas aulas de Educação Física e, com foco no sertanejo, foram disponibilizados 12 ritmos musicais, dos quais os alunos escolheriam quatro para montar a coreografia, ensaiar, dançar e representar. Durante o mês de maio, as aulas de Educação Física foram utilizadas para as montagens e ensaios, paralelamente às atividades nas aulas de Língua Portuguesa e Arte, criando repertório e significado neste estudo tão amplo.

Como parte importante deste processo e dialogando com todo o conhecimento adquirido nas aulas de Língua Portuguesa e Educação Física, no componente de Arte buscamos aprofundar o estudo deste sertanejo, sua indumentária e toda história que vem junto com a vestimenta e os acessórios utilizados por este povo, que aproveita todo o material abundante em sua região para transformá-lo em marca e símbolo de resistência.

O sertão nos deixa uma grande herança estética. Desde as rendas bordadas, estampas, materiais, texturas, artesanatos com tecidos e couro. A moda – feita à mão – tem uma função social que vai muito além da simples confecção das peças.

A indumentária é uma forma de comunicação não-verbal e, por meio dela, histórias são contadas, fios, linhas, couros e costuras são produzidos nas mais diferentes regiões do sertão nordestino.

Desde a vestimenta feita em couro forjado até a tecelagem da fibra do caroá, tudo vira matéria-prima para a construção.  Os desenhos, por sua vez, vão sendo aprimorados e fazem referência a animais e plantas estilizados.

Os estudantes neste ano constroem o bornal, peça utilizada pelo sertanejo para o transporte e armazenamento de alimentos, bem como o chapéu, inspirado nos chapéus de couro, que é um dos símbolos mais representativos da identidade do sertão nordestino.

A proposta do trabalho é que cada estudante vivencie a construção da sua própria vestimenta, criando cortes, desenhos e estampas, que além de desenvolver competências e habilidades artísticas, permite enriquecer o repertório e gerar uma apropriação, reconhecimento e valorização cultural.

O produto final deste processo de aprendizagem poderá ser visto, em síntese, na apresentação da dança da Festa Junina do CSM, no dia 17 de junho. Esperamos a presença de todos para prestigiarem nosso trabalho e a cultura nordestina!

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