Educação em Pauta, Ensino Médio

Democracia e memória: o papel da Educação na construção do Brasil

Este ano, o Brasil comemora 40 anos de sua redemocratização, mesmo ano em que o filme Ainda Estou Aqui recebeu o Oscar, prêmio inédito do cinema brasileiro.

As aulas de História da 3ª série do Ensino Médio trazem à discussão o Brasil Republicano e, dentro deste tema, o processo lento e gradual que levou o Brasil de volta à democracia.

 Autoria: Sonia Brandão – Professora de História da 3ª série do Ensino Médio

“Quando após tantos anos de lutas e sacrifícios, promulgamos o Estatuto do Homem da Liberdade e da Democracia, bradamos por imposição de sua honra. Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo.”

Esse trecho encerra o discurso do então deputado federal pelo PMDB Ulysses Guimarães (1916-1992), presidindo a Assembleia que promulgou a Constituição de 1988 e definitivamente encerrou o espírito da Ditadura Civil-Militar no Brasil.

Formalmente, a Ditadura encerra-se em março de 1985 quando a faixa presidencial é passada em solenidade pública para o presidente eleito indiretamente, José Sarney.

No ano em que Ainda estou aqui (Brasil, 2024, Walter Salles) recebe o Oscar de melhor filme internacional retratando a luta de uma família pelo reconhecimento do Estado por sua responsabilidade na prisão, morte e desaparecimento do deputado cassado Rubens Paiva em janeiro de 1971, o Brasil também comemora os 40 anos da redemocratização do país.

Parece uma coincidência auspiciosa, mas, também uma lembrança necessária frente às novas ameaças aos avanços pretendidos pela Nova República e pela Constituição de 1988. Lembrar disso, nesse caso em especial, é resistir. É o que diz o slogan do Memorial da Resistência (Bairro da Luz), antigo centro de repressão e tortura, hoje um museu que homenageia todas as pessoas (homens e mulheres) que lutaram contra a Ditadura e que é visitado todos os anos pelos alunos e alunas do Santa Maria.

O processo lento e gradual que levou o Brasil de volta à democracia será o eixo principal nas discussões de Brasil Republicano na 3ª série do Ensino Médio este ano. Estamos falando de movimentos sociais e políticos de grande peso como o contra a carestia, pela anistia, pelo fim da censura, pela volta ao pluripartidarismo e pelo retorno das eleições diretas para presidente.

Para os que conhecem superficialmente a História do Colégio Santa Maria, é importante lembrar que as Irmãs de Santa Cruz abriram os portões da escola para que servisse de local de organização na região sul de São Paulo, do Movimento Contra a Carestia que estava articulado também com a Pastoral Operária. Mesma ação católica da qual participava Santo Dias, trabalhador morto pela polícia na porta de uma fábrica, a alguns quilômetros da escola, quando mobilizava uma greve em outubro de 1979. Santo Dias foi sepultado no cemitério de Campo Grande.

Esse ponto será visitado por nossos estudantes pela primeira vez esse ano. Mas a história do movimento já foi rememorada em 2019, num evento organizado pelo Ensino Médio e que contou com a presença de Ana e Luciana Dias, esposa e filha do operário.

O fato é que quando pensamos no papel da Educação e da Escola na formação da cidadania e em sua corresponsabilidade na valorização da democracia – e da redemocratização, como comemoramos em 2025 – estamos também nos comprometendo em criar aquilo que em História é denominado “vontade de memória”. É esse ato político – e pedagógico – que nos leva através de ações educativas a buscar no nosso passado histórico os momentos em que a luta pelas liberdades democráticas assumiu o centro do debate, uniu partidos, somou lideranças e instituições.

Nesse sentido, não existe neutralidade. Escolhemos o lado da democracia para cerrar fileiras. É o que nos propomos como Projeto Político Pedagógico. Continuamos onde sempre estivemos: aqui.

Foto: Site Agência Brasil (EBC).

Você também pode se interessar