Como as frustrações da infância podem se tornar lições poderosas de inteligência emocional? Descubra o papel essencial dos sentimentos na formação das crianças.
Autoria: Gabriela Marques – Professora do Jardim II
No Colégio Santa Maria, vivemos diariamente a beleza e a intensidade dos primeiros vínculos, das primeiras descobertas, encantamentos e também das primeiras frustrações. É nesse território sensível da infância, que pequenos gestos e situações cotidianas revelam grandes oportunidades de desenvolvimento — inclusive aquelas que, à primeira vista, parecem desafiadoras.
Quando uma criança não consegue encaixar uma peça, quando perde um brinquedo preferido ou quando não é escolhida para liderar a brincadeira, sentimos junto com ela a dor de não conseguir, de não se sentir escolhida, de não estar no controle. Nessas situações, a frustração se apresenta como um sentimento legítimo e necessário. Mas, para além do desconforto momentâneo, ela cumpre um papel essencial no desenvolvimento da inteligência emocional.
A missão do Colégio Santa Maria nos lembra que educar vai muito além da transmissão de conhecimentos acadêmicos. Nossa proposta é promover uma formação integral, que acolha corpo, mente e coração. Isso implica reconhecer que as emoções fazem parte do processo de aprendizagem — e que a frustração, em particular, é uma emoção estruturante.
Na primeira infância a criança está aprendendo a nomear o que sente, a lidar com a espera, com o “não” e com os imprevistos. Esses momentos podem gerar lágrimas, protestos ou silêncios — e tudo isso precisa ser acolhido com escuta e presença. O adulto que ampara sem apressar, que não tenta “resolver logo”, mas caminha junto com a criança na dor de não conseguir, está ajudando a construir algo muito mais profundo do que a solução imediata: está ensinando sobre resiliência.
Ao viver uma frustração com apoio e empatia, a criança aprende a suportar o incômodo sem negar o que sente. Aprende que os sentimentos não a definem, mas a atravessam — e que ela é capaz de seguir, mesmo diante do desconforto.
Loris Malaguzzi dizia que “toda criança é feita de cem linguagens”. Isso significa que ela sente, pensa e aprende de muitas formas — e uma delas é pelo afeto. Quando validamos seus sentimentos e oferecemos suporte para que ela os compreenda e reorganize, damos espaço para o florescimento de habilidades fundamentais para a vida: a empatia, o autocontrole, a escuta, a colaboração.
A inteligência emocional não nasce pronta — ela floresce aos poucos, nutrida pelas vivências do dia a dia. Entre essas experiências, a frustração ocupa um lugar especial: ainda que desafiadora, ela é profundamente formativa. Quando algo não acontece como a criança esperava, ela se vê diante de seus próprios limites — e, ao mesmo tempo, descobre que pode superá-los. Aprende que pode pedir ajuda, recomeçar, inventar novos caminhos.
Esses momentos, muitas vezes silenciosos, fortalecem a autonomia e ajudam a construir uma autoestima verdadeira — aquela que não se apoia apenas nos acertos, mas na coragem de sentir, de tentar de novo e de seguir em frente. É nesse percurso que se desenha a educação integral que acreditamos no Colégio Santa Maria: formar sujeitos capazes de pensar criticamente, sentir com profundidade e agir com responsabilidade e com o coração.
A frustração, aquilo que falta ou falha, pode ser justamente o que mais ensina. Quando cuidada com amor, ela se transforma em presença. Em aprendizado vivo!
Saiba Mais!
*Loris Malaguzzi foi um pedagogo e psicólogo italiano, falecido em 1994, conhecido por ser o criador da abordagem Reggio Emilia, uma referência à cidade do Norte da Itália. Esta abordagem valoriza a escuta, a colaboração e a expressão múltipla das crianças (as cem linguagens mencionadas no texto), acreditando que os pequenos são capazes de construir conhecimento por meio das interações com o outro e com o meio ambiente.