Professor Caio Leite, do 9º ano, faz um relato emocionante do quanto a viagem ao Vale do Ribeira representa para todos os envolvidos neste projeto que mobiliza os adolescentes e toda a comunidade escolar a doarem seu tempo por amor
Autoria: Caio Leite – Professor de Ensino Religioso do 9º ano
Aprendi desde pequeno que histórias de vida são importantes e motivadoras, pois são uma forma de inspirar uns aos outros nos mais diversos momentos da vida. Poderia iniciar essa reflexão trazendo conceitos acadêmicos, vocacionais, políticos ou sociais do porquê o trabalho voluntário no Vale do Ribeira é tão importante, relevante e necessário para as comunidades e para nossos voluntários. Apesar disso, quero começar contando sobre minha história.
Cresci num lar cristão e sempre fui ensinado a temer a Deus. Me recordo de vários momentos na infância com minha mãe cantando músicas sobre o amor de Deus enquanto eu brincava num cavalinho de madeira, mais ou menos parecido com o da foto ao lado.
Dos áureos tempos pueris, minha infância foi marcada por muita timidez e, em certo sentido, bastante solidão. O desabrochar da adolescência trouxe consigo uma mudança marcante no meu comportamento social: passei a me arriscar mais e ter uma voz ativa nos espaços escolares, eclesiais e familiares. Noto quão importante foi esse período porque, no auge dos 16 anos, rompi definitivamente com a ideia de estudar medicina para servir a Deus e cuidar das pessoas.
Estou contando essa história a exatos 30 dias de completar 38 anos, o que representa um decurso de 22 anos desde a experiência decisiva de abandonar a vocação médica para o cuidado com o próximo de uma forma integral.
Cada dia que entro na sala de aula, ou quando encontro com os meninos e meninas que doam seu tempo para os cuidados com o voluntariado, ou mesmo nas viagens realizadas ao Vale do Ribeira, entendo a importância de estar com o coração aberto às transformações.
Minha memória não me trai ao lembrar dos rostos de cada voluntário brincando com as crianças nas comunidades, mas também das brincadeiras, risadas e reflexões realizadas todas as manhãs e ao anoitecer na “nossa casa” lá em Eldorado.
No penúltimo dia de trabalho, meninos e meninas sentam-se ao redor de uma fogueira, assim como faziam os antigos, e ali há um tempo de muita reflexão acerca do que representou aquela semana de trabalho, das pessoas que retornaram depois de já terem participado e das promessas de quem ainda espera voltar ao Vale nos próximos anos.
Sim, o Vale é necessário porque transforma vidas e transforma as percepções de mundo de quem vai para lá. Não é exceção escutar as histórias dos pais que viajaram ao Vale quando estavam no 9º ano e espero que daqui 22 anos, muitos meninos e meninas que viajaram possam, assim como eu, recordar das profundas transformações pelas quais passaram em suas vidas após esse período.
Que cada sorriso, abraço, lágrima, reflexão e posicionamento assumidos pelos nossos voluntários (incluindo professores/as, coordenadores/as, auxiliares, ex-alunos/as e todos aqueles/as que já descansam na eternidade) possam refletir a luz para as próximas gerações e transformar as histórias e os corações de quem vai e de quem vive lá.
Saiba mais!
A viagem ao Vale do Ribeira acontece todo ano no mês de junho, quando estudantes do 9º ano saem em missão durante cinco dias e visitam escolas daquela região composta por 25 municípios do sul do Estado de São Paulo. Alunas e alunos do Santa Maria promovem recreação com as crianças, jogos, atividades esportivas, brincadeiras, dedicam seu tempo para oferecer acolhimento, para conviver e levar afeto às comunidades que vivem uma outra realidade. O projeto é supervisionado pela equipe pedagógica do CSM (professores e orientadores) e conta também com a participação de ex-alunos; são jovens apaixonados por esse movimento de se doar por amor ao próximo.